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15 de fevereiro de 2002 |
O desafio da comunicação Laerte Braga
A célebre frase de Andy Wahrol, aquela que diz que "no futuro todos
terão direito a 15 minutos de fama", tal e qual a foto de Guevara que
corre o mundo, foi transformada em lucro pelo capital. Calça jeans virou
símbolo de liberdade.
Flávio Tavares, um dos mais brilhantes jornalistas da história do jornalismo brasileiro, em uma das oficinas do FSM - Fórum Social Mundial -, justamente uma das muitas que trataram do tema comunicação ("A Informação no Mundo Globalizado, da rede Praxis), disse, com todas as letras que "nossos filhos são educados pela televisão e nem mesmo os partidos de esquerda sabem usar a televisão, senão como veículo de propaganda rasteira e sem nenhum conteúdo de informação e formação". A verdade é que a televisão cumpre um papel fundamental no processo de coisificação do ser, de transformação do sujeito em objeto. Consegue inclusive convencer a cães e gatos que ração é melhor que carne e pior, quem na verdade passa a crer nisso somos nós, os que compramos. O carnaval é uma mostra disso. A mais popular das festas brasileiras transformou-se num desfile de mulheres produzidas, siliconadas, espécimes perfeitos de objeto sexual, onde o alvo, além do sucesso, costuma ser o casamento com um "conde" italiano e a perspectiva de retrato na "Caras", com direito a tratamento de grande dama. Uma pequena rede, só com fofocas dos bastidores, ameaçou a audiência da "Globo", que transmite ao vivo os dois dias de desfiles no Rio de Janeiro. "Falta alma a essas mulheres. São só corpo", definiu o notável escritor e autor teatral Ariano Suassuna, homenageado, inclusive, por uma das escolas que desfilou para Bárbara Bush no sambódromo daquela cidade. Disse assim, ao pedir menos nu e mais emoção na passagem do Império Serrano, uma das mais tradicionais agremiações carnavalescas do Rio. O capital soube apropriar-se dos meios de comunicação com eficácia impressionante. E esses souberam e sabem transformar o ser humano em coisa. O robô/humano reage à ordem de aplaudir, ou a de chorar, em questão de segundos. A idéia que o "povão" gosta é disso é equivocada. Ao "povão" é impingida essa realidade pois presta-se às novas formas de escravidão, onde o trabalhador acredita, piamente, que saber apertar parafuso ou com a mão direita, ou com a mão esquerda, leva-o aos píncaros da glória, do sucesso. É como o dono de uma quitanda, um pequeno negócio, mas que acredita-se "empresário" e passa a raciocinar segundo a ótica de um banqueiro. A "revolução hoje passa pela palavra e não pelas metralhadoras", nunca é demais lembrar a frase de Plínio de Arruda Sampaio, um dos fundadores do PT - Partido dos Trabalhadores. O Brasil vive a perspectiva do capital estrangeiro no setor. Vedado até hoje, por obra e graça do poder desses veículos e da pusilanimidade do Congresso, dentro em pouco estaremos submetidos ao processo "halloween". Vai poder, o capital estrangeiro, participar das empresas de comunicação. Aqui, como em qualquer parte do mundo, as rádios ainda são um importante veículo de comunicação. A experiência de rádios comunitárias, num determinado momento e em casos isolados, hoje, ameaçou romper o monopólio das grandes redes. O governo tratou logo de regulamentar e criar mecanismos para impedir que isso acontecesse, ou aconteça. Pimenta da Veiga, um obscuro deputado federal, levado ao Ministério das Comunicações por conta de sua capacidade de adaptar-se ao "meio", tratou de "coordenar" o setor e o que sobra do espírito que alimentou o sonho de rádios comunitárias, é pouco, muito pouco. As novas "rádios" só são legalizadas quando veiculam a mensagem oficial. No caso do ministro, em seu Estado, Minas Gerais, montou uma rede de supostas rádios e tevês comunitárias para vários amigos e trabalha sua candidatura ao governo estadual. Bem ao seu estilo corrupto. Mas eficiente. A rede mundial de computadores já está sofrendo os ataques do capital. Programas como o "echelon" tratam de vigiar o tráfego de informações e identificar aquelas que são contrárias aos interesses do Império e do capital, o que, no fundo, são a mesma coisa. A perspectiva de informações sem controle e sem a prestimosidade dos grandes veículos de comunicação de massas, assusta os donos do mundo, até pelo crescimento constante do número de pessoas, em todo o mundo, com acesso a "net". Uma geração está crescendo sob o fascínio do novo mundo da informática e qualquer criança, hoje, na maioria dos países ocidentais, fala a linguagem das máquinas, pois começa cedo a aprendê-la em suas escolas. O grande desafio das forças populares, no mundo de um imperador insano, doentio, George Calígula Bush, é o de vencer as dificuldades da comunicação. Criar mecanismos para romper o poder dos grandes grupos, da mídia associada ao capital e seus interesses e trabalhar, basicamente, informação e formação. Cidadania. A rede mundial de computadores pode cumprir um papel relevante e decisivo nessa luta. É preciso, no entanto, começar a caminhada. De uma vez. Pois já perceberam isso. Lançam, com o extraordinário poder que dispõem, seu tentáculos para neutralizar qualquer sonho de uma comunicação livre, formadora, capaz de permitir seres humanos e não robôs. As novas formas de escravidão passam por fazer o sujeito crer, populações inteiras, que determinada marca de sabão lava mais branco; que determinado produto remove gorduras, emagrece; que determinada pessoa é e será o melhor governante porque tem estampa e tanto lava melhor, como emagrece. Só através da comunicação. A batalha da liberdade está na palavra. Na comunicação. Na capacidade de fazer o ser despertar, olhar à sua volta e preferir caminhar pela vida como tal, nunca como número. Esse é o maior desafio das forças populares. Se não formos capazes de vencê-lo... ...Vencê-lo começa pela consciência e pelo debate. Por romper os limites e os interesses da corporação, refiro-me aos jornalistas. Foi isso que Saramago quis dizer, para todas as lideranças sindicais de todas as categorias de trabalhadores, em sua mensagem lida no encerramento do FSM. Ou como diz Millôr Fernandes, nunca é demais repetir: "imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados". Hoje, tem que ser muito mais que oposição. Mas trincheira de resistência. |
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