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9 de fevereiro de 2002 |
O resgate do parâmetro humano Démerson Dias (*)
Hoje os limites da chamada ciência econômica são melhor conhecidos,
mas o físico Albert Einstein já nos lembrava em 1949 (Por que
Socialismo?) que, como o socialismo visa superar a fase predadora do
desenvolvimento humano, aquele ramo da ciência não pode lançar muita
luz sobre o futuro da humanidade e do socialismo.
Não cabe à parte decifrar o todo, ainda que possa agregar elementos para tanto. Justamente por saber disso, o capitalismo necessita convencer ao mundo de que a realidade que vemos não é real, e que a verdade, ao invés de ser a expressão da realidade, corresponde à interpretação (na verdade, propaganda) que os meios de comunicação tratam de ministrar persistente e constantemente aos povos de todo o mundo. Para tanto, é necessário que a economia funcione como um oráculo, mistificador de todas as tendências. E transformar a economia em mistificadora de tendências. Dentre todos os que comentaram os desafios e perspectivas para o Fórum Social Mundial de 2001, creio que Luis Fernando Veríssimo foi especialmente feliz ao resgatar uma idéia singela, mas soberbamente significativa. A ousadia do FSM, tanto o anterior, quanto este é devolver ao humano o status de parâmetro de todas as coisas. Pois essa é a medida que nos contempla indistintamente. Ao contrário do que se pretende fazer crer, é o modelo capitalista que está sendo superado pela história humana, ao buscar se impor como alternativa única e derradeira. É a «utopia» apresentada pelo capitalismo que provou ser um engodo. É a «sábia» tutela dos mercados sobre a sociedade que tem impulsionado atrocidades sem par. A guerra fria acabou, mas a paz não nos alcança, pois, insaciável, o capitalismo forja novas (e velhas) guerras, antes mercantis do que militares. Assim como os regimes pretensamente socialistas falham justamente quando tentam copiar os equívocos capitalistas e tirar o humano do centro das preocupações. Basta observar onde foi parar a promissora revolução tecnológica do capitalismo. No passado ela iria libertar o ser humano da escravidão do trabalho. Hoje trabalhadores estão entre o fogo e a caldeira. Se não são escravos do trabalho, são vítimas do desemprego. O trabalho, longe de nos libertar, nos emburrece e mortifica. Em momento algum os avanços tecnológicos ocorridos nos meios de produção representaram melhoria efetiva nas condições de vida dos trabalhadores. Ao contrário dos patrões, sobretudo os maiores, que foram regiamente beneficiados. Não se trata de um fenômeno isolado. A miséria na África serve de álibi para o «cobaiamento» de seres humanos. Tal é a desfaçatez das elites que já nem se importam mais de esconder as evidências de seus crimes. Agora buscam justificá-los. Isso para não falar nos tráficos de escravos e órgãos, em todos os sentidos mais, degradantes e perversos do que os de armas e drogas. Para os otimistas profissionais, deveria bastar olhar em volta par perceber que a barbárie não é uma perspectiva futura, mas já está instalada na sociedade. Talvez este seja o principal recado histórico do fatídico 11 de setembro. Creio que não seria por demais presunçoso afirmar que se houver uma alternativa à barbárie esta se encontra nos marcos do socialismo, justamente pelo resgate do parâmetro humano. E, mais que isso, na formulação marxiana, sua emancipação. E não é possível emancipação (ou libertação) alguma se nos aferramos aos nossos erros. Nossos erros podem ser lastros ou trampolins. E já convivemos tempo suficiente com o capitalismo para sabermos a que veio. Pessoalmente não me preocupa se o nome que daremos é comunismo, quilombo, utopia, ou falanstérios. Mas não haverá esperança se não tomarmos a decisão de vencer nossos próprios limites e nossos próprios erros. Ao contrário do que diz o ditado, pau que nasce torto cresce. A sinuosidade antes de um padrão estético é história de busca por melhores condições. É possível e necessário buscar por um mundo melhor. Ainda que tenhamos que lutar por ele. (*) Coordenador da Federação Nacional dos Servidores do Judiciário Federal e do Trabalho, no Brasil (FENAJUFE). |
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