Portada Directorio Buscador Álbum Redacción Correo
La insignia
13 de janeiro de 2002


2002


Fábio Luís
Correio da Cidadania. Brasil, 12 de janeiro.


Em geral, no final de ano as pessoas buscam estar com seus queridos. Pais querem estar com filhos que, após certa idade, querem estar namorando. Muitas pessoas buscam a natureza, pular ondas apenas pretexto para mergulhar na areia.

Final de ano no Brasil revela de algum modo a ansiedade e ao mesmo tempo a profundidade da busca sentimental do homem moderno. Para muita gente é um problema - e mesmo uma angústia compor com quem e onde passar o reveillon e fazendo o que. A isso assome-se um certo elemento supersticioso do brasileiro - mas também esperançoso - de que um feliz começo de ano é sempre bom presságio, e a certeza matemática de que é sempre possível e desejável recomeçar.

Como bons políticos, todo brasileiro no ano novo fala em mudança. Mas diferente de muitos políticos, o brasileiro quando fala acredita em mudança. Se tem uma terra onde o sonho não acabou, este lugar há de ser o Brasil. Da minha parte, também passei o ano com os queridos. Embora amante da natureza, da família e mais ainda das boas amizades, desta vez esperei o ano com Trotsky. E foi uma experiência emocionante.

Na semana do Natal encontrei em um sebo sua antológica biografia feita pelo judeu polonês Isaac Deutscher em 3 tomos. Mais do que a narrativa de uma vida espetacular, o livro constitui verdadeira lição de política e estratégia revolucionária. Ou seja: aquilo que o bom militante procura extrair da experiência histórica. Deutscher foi ele próprio militante do partido comunista, e viveu na pele a ressonância da conspícua atividade política de seu biografado. Assim, o livro é carregado da emoção de quem não apenas ouviu dizer, mas chorou junto.

Se o escritor tem mérito, o personagem e sua aventura são incomparáveis. A vida e a luta de Trotsky são permeadas por uma esperança de transcendência infinita, que como cabe aos grandes profetas ressoou com a potência da tragédia. Sua reverberação simplesmente não coube no planeta em que viveu. Aos trinta e oito anos - idade com que morreram Sandino, Zapata e o Che - Trotsky estava expulso da União Soviética. Nenhum país do ocidente se dispôs a abrigá-lo. Praticamente, Trotsky foi o primeiro exilado planetário.

Quando tinha trinta e três, morreu Lenine. Sem saber, Trotsky estava pregado em sua cruz. A tragédia pessoal que o esperava foi insonhável, muito mais profunda que seu assassínio trivial. E tanto mais dramática pela sua própria humanidade: Trotsky podia ser santo mas não era divino e assim nunca anteviu a imensidão do drama que lhe avizinhava. Destino sombrio, vigoroso e implacável como uma onda tremenda, a solidão mais insondável que jamais se viu: pois diferente de Jesus, Trotsky não esperava salvação nem de Deus por ateu que era. Dedicou aos homens e nos homens toda a sua esperança de redenção da humanidade que, afinal, não seria para ele algo extraordinário. Apenas bom senso e coragem, virtudes que levada à raiz são suficientes para construir um revolucionário.

Olhando assim, 2002 ficou fácil.



Portada | Iberoamérica | Internacional | Derechos Humanos | Cultura | Ecología | Economía | Sociedad | Ciencia y tecnología | Directorio | Redacción