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27 de abril de 2002 |
Brasil Conservadores, reformistas e revolucionários: Algumas lições.
Guilherme Vargues
A derrota do socialista Lionel Jospin nas últimas eleições francesas, a ascensão conservadora de Le Pen e a ofensiva reacionária por parte da burguesia venezuelana marcaram o cenário político do último mês. Enquanto isso no Brasil, não sugerindo que fatos se repitam, mas atento aos avisos, ao PT, que na última semana despontou nas pesquisas eleitorais, cabe uma análise cautelosa e sucinta dos fatos políticos que marcaram o cenário internacional.
De fato, a sustentabilidade da social-democracia européia calcava-se em uma política "limitada" porém razoavelmente eficiente de sustentação de determinados privilégios da classe trabalhadora, tal como pensões, seguro desemprego, menores jornadas e etc. Esse paradigma foi minado, atacado com todas as forças pela chamada modernização neoliberal que aproveitando-se do ciclo de crise insolúvel do modelo de "Estado do Bem Estar Social" apoderou-se das contradições e começou a auto proclamar-se não só o que Hackey configurava como a saída para os patrões, mas também a saída para o desenvolvimento e o fim da estagnação, trabalhando-se a financeirização a qualquer custo o Estado sairia da crise e inclusive resolveria a questão do desemprego. Os partidos socialistas europeus, e mesmo a maioria dos partidos comunistas, nunca foram, ou pelo menos deixaram de ser, revolucionários. Por isso mesmo tinham a clareza de que suas reformas deveriam andar dentro dos limites do capitalismo. Entretanto, nos ciclos de crise o capitalismo europeu viveu algumas fases, de relação político-institucional, diferenciadas, veja: liberalismo, fascismo, social-democracia e neoliberalismo. Estas fases alteraram-se dependente da correlação de forças exposta entre o modelo econômico e a hegemonia de seus interesses na sociedade civil, ademais a gradual absorção do novo paradigma técnico-científico frente às estruturas social-institucionais. A direita, nesse caso extremamente atenta aos ensinamentos de N.Maquiavel e V.I. Lênin, sabe de cor o que os comunistas e socialistas adoram dizer e não sabem aplicar: A correlação de forças e a analise concreta da estrutura e da superestrutura devem guiar nossa ação concreta, somente o acúmulo mais fiel, mais próximo da realidade é capaz de fazer com que nossa ação política seja capaz de alterar de fato as situações. Foi essa análise que trouxe aos economistas capitalistas o neoliberalismo, foi essa mesma análise que disse que a saída para o neoliberalismo é mais neoliberalismo, ou revolução socialista. Foi essa análise que colocou a social-democracia em cheque como uma tendência fadada ao fracasso colocada de frente a modernização neoliberal e sua insignificante eficiência relativa quando se tratar de quesitos macro-econômicos. De fato os neoliberais tinham um projeto, os socialistas boiavam. O projeto consistia em atacar o poder de regulagem de salários, benefícios e preços dos sindicatos, e os quesitos de intervenção do Estado de Bem Estar Social que nada tinham a ver com a mão mágica do Estado neoliberal que intervém no quesito de dinamizar as ações flexibilizadoras impostas pelo capital. Ai estava o planejamento econômico, a financeirização. E depois o projeto hegemônico - ideológico, como escreveu Chomsky, manufaturaram um consenso. A derrota econômica do neoliberalismo está tremendamente associada a uma vitória ideológica, seus propagandistas e seus mecanismo de difusão social foram impecáveis, criaram-se modas no senso comum, tais como a idéia exarcebada de consumo, o crédito, individualismo, competitividade, e a principal, a idéia de que o público não presta, logo deve ser privatizado. Hoje, este período de euforia baixou, o neoliberalismo já não consegue gozar do status da época de Reagan, Tatcher e Pinochet. O movimento insurgente, mesmo que ainda pouco organizado, começa a crescer em todo o planeta, já são várias ações anti-globalização, jovens de todo o planeta reúnem-se em Genova e Porto Alegre para discutir e combater o modelo vigente. A hegemonia neoliberal entre em crise na sociedade civil. O fim da Histórica começa a se configurar como um espasmo de insanidade medíocre do senhor Fukayama. E o que fizeram os socialistas, ou pelo menos os que se proclamam. Ao invés de construir em suas administrações mecanismos de polarização da crise com a sociedade, prometeram em seus discursos de posse velhos remédios keynisianos, e quando de fato com o poder aplicaram políticas que não conseguiram romper com a lógica do mercado financeiro internacional, assim, confundiram-se com os neoliberais, e ademais, não deram resposta para a crise, pois não ousaram levar o movimento popular para frente e prepará-lo para a necessidade de ruptura. Quando foram reformistas radicais, como Hugo Chávez, pecaram em não organizar de fato a sociedade civil para a resistência contra qualquer movimento reacionário preparado pela burguesia, como o que o derrubou. De fato, Chávez voltou ao poder com a ajuda do povo, triunfou, mas precisa avançar e consolidar medidas que preparem o povo para o que vier e ademais ampliar as conquistas do projeto bolivariano no que diz respeito a construção de uma sociedade que culmine o fim da exploração homem - homem. No caso de Jospin, de fato foi a confusão entre direita e esquerda. Jospin não conseguiu administrar a crise do capital, não polarizou com a sociedade, adotou práticas neoliberais meio ao tipo de situação sem-saída. Não se diferenciou de políticos como Chirac. O programa de Jospin não sanou a crise, não resolveu o problema do desemprego, pois insistia em afirmar que era possível humanizar o capitalismo. Esse vazio de espaço político em momentos mais radicalizados faz com que cresçam os extremos, tanto de direita, no caso Le Pen, tanto de esquerda. Nesse vazio surge um reacionário, machista, preconceituoso, xenófobo chamado Le Pen, falando a uma França assolada pelo desemprego, violência e degeneração que a culpa está nos estrangeiros que vem a nossa terra nos tirar empregos e nos valores morais. Lê Pen estava atento a realidade concreta. A esquerda radical, menos preparada, cresceu, mas de toda forma fragmentada (mais uma vez faltou unidade aos comunistas) e com um projeto pouco claro de ruptura e hegemonia foi incapaz de absorver o ciclo de crise e polarizar em torno da necessidade de construir uma alternativa, à Jospin, pela esquerda. A esquerda socialista começa a enxergar a necessidade de elaborar um novo programa que seja capaz de disputar hegemonia, polarizar o ciclo de crise do capital, e preparar o movimento popular para o enfrentamento, visando a necessidade construir a idéia de ruptura como única saída para a crise que assola mais de ¾ da humanidade. A teoria de poucos, mas bons, fragmentados e dispersos não mais nos interessa. Os revolucionários precisam criar frentes de massa que discutam a verdade efetiva das coisas, elaborando assim estratégias coerentes com a realidade que sejam capazes de polarizar de fato com as forças conservadoras. Nós temos que absorver os elementos da crise do capital e tratar de disputar hegemonia edificando-se como alternativa aos oprimidos, não podemos deixar que fascistóides de plantão ocupem o espaço que nos cabe. Esse cenário, na França, na Venezuela, alertava no início do texto, serve de aviso para o PT (que agora dispara nas pesquisas), que com um programa reformista extremamente economicista pode encarar um enfrentamento com as forças conservadoras, e ter ao seu lado um movimento social despreparado por suas próprias ações como maior partido de esquerda do Brasil. Lula precisa entender que o seu principal aliado e sustentador de suas reformas será o movimento popular organizado, serão eles que lhe darão legitimidade. Agora, legitimidade se conquista, se as coisas começam a se confundir um novo cenário político e uma nova correlação entre o PT e a classe trabalhadora pode emergir. Por enquanto voto Lula, faço até campanha, nem que seja para fechar o ciclo histórico. Ao depois, espero que seja organizado, disciplinado, objetivo, orgânico, de massas, e acima de tudo, revolucionário. |
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