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27 de abril de 2002 |
Brasil Um niilismo de esquerda Luiz Pilla Vares (*)
O professor Mário Maestri é conhecido nos meios acadêmicos. Tem uma
obra importante como historiador. Mas é igualmente respeitado na esquerda
brasileira, como intelectual revolucionário que nunca vacilou diante das
tentativas de imposição de um pensamento único, de matriz neoliberal. O
professor Maestri acaba de divulgar um texto, via Internet (La insignia, 27 de março), extremamente crítico em relação aos rumos do Partido dos Trabalhadores e, especificamente, em relação ao nosso governo democrático e popular e suas realizações e caminhos. Certamente, o artigo do professor Maestri tem um viés de esquerda e não faz coro à má fé e às mentiras da oposição de direita. Em seu texto, ele faz várias referências às nossas origens, a de
Lula, de Tarso e do governador Olívio Dutra. Pois bem, todos nós crescemos
politicamente em um ambiente no qual o stalinismo e o monolitismo
partidário já estavam sepultados, pelo menos na grande maioria das
organizações da esquerda brasileira. Assim, fomos acostumados ao debate e
ao pluralismo de idéias. E é por isto que temos gosto em debater com o professor Mário Maestri, nosso companheiro.
Mas, divergimos. Em primeiro lugar, a conquista do Governo do Rio Grande do Sul por uma frente política popular e democrática, com base nos movimentos sociais, constitui um acontecimento histórico. Pela primeira vez, as elites tradicionais foram derrotadas. Procurava-se fazer do Rio Grande um grande experimento do modelo neoliberal, com a generalização das privatizações, com o desmonte do Estado e as demissões massivas, inclusive em áreas de extrema importância como a seguranças pública, através do PDV (o malfadado Plano de Demissões Voluntárias). Nós, desde o primeiro dia de campanha, proclamamos aos trabalhadores do Rio Grande nossa radical oposição a tudo isto: dissemos não ao Estado Mínimo defendido por nossos adversários, mas defendíamos também que o Estado não pode estar acima da sociedade. E desde o primeiro dia de nosso Governo empenhamo-nos arduamente na reconstrução do Estado, perpassado pelo protagonismo da cidadania e pela participação popular. Estávamos, portanto, na defensiva. Diante da avalanche neoliberal, era preciso, em primeiro lugar, reconstruir tudo o que foi destruído. Mantivemos o que restou da CEEE, impedimos a privatização do Banrisul, cessamos as demissões, criamos a Universidade estadual possível para este momento das finanças do Estado e, talvez o mais importante de tudo, criamos, junto com os trabalhadores do Rio Grande, o Orçamento Participativo em nível regional. Na verdade, desencadeamos um processo. Temos plena consciência de nossas limitações, pois herdamos um Estado falido, com conquistas sociais históricas seriamente ameaçadas. E, se percorremos um caminho institucional, que parece não ser contestado pelo professor Mário Maestri, não podemos evidentemente de uma hora para outra chegar ao Estado e à sociedade de nossos sonhos. Este processo será longo, mas, para percorrê-lo vitoriosamente, é preciso um grande senso de realismo sem esquecer o sonho que nos move e que é a razão de nossa vida política e de nossa militância, o sonho de uma nova sociedade de homens e mulheres livres e iguais. Não aceitamos o fatalismo: esta nova sociedade que sonhamos, nossa utopia, será construída pela prática política e social de milhões de pessoas, que na sua vida cotidiana saberão erguer degrau por degrau os caminhos da liberdade. Desde muitos anos aprendemos que uma revolução não se faz por decreto. E se poderia haver qualquer dúvida quanto ao que representa o nosso Governo, basta auscultar as reações de nossos adversários históricos, de suas instituições de classe, de seus representantes políticos nos partidos e nos parlamentos. O companheiro Mário Maestri, em seu artigo, critica duramente o resultado das prévias do Partido dos Trabalhadores. É claro que estamos sujeitos a críticas, seja pela esquerda, seja pela direita, se é que assim podemos classificar a nossa geografia partidária sem cairmos num esquematismo vulgar e reducionista. Quando se assume o pluralismo e se parte da conclusão teórica de que o socialismo é inseparável da democracia mais ampla e radical, é imperioso aceitarmos a decisão das bases partidárias, sua mais ampla soberania. Sabemos que o papel do indivíduo é extremamente importante, mas não é ele que define os destinos de um partido de massas, socialista e democrático como o PT. Nem Lula, nem Tarso, nem Olívio manipulam as nossas bases, nem pretendem isto, o que acabaria por nivelar o PT aos partidos tradicionais das elites. Seria esquematismo simplificador nivelar os projetos políticos pela origem de classe de suas lideranças. Se assim fosse, Engels, empresário em Manchester, ou Marx, doutor em filosofia, não teriam tido a importância que tiveram na construção do movimento operário. Por fim, com todo o respeito pela trajetória política e pela cultura do companheiro Mário Maestri, lamentamos o tom niilista de seu texto, mesmo percebendo que ele é movido por uma genuína postura de esquerda. Nós, ao contrário, temos uma visão otimista e profundamente esperançosa dos caminhos que temos a percorrer. Estamos certos da vitória de Lula presidente em 2002, assim como em nenhum momento duvidamos de que nosso projeto continuará nos próximos quatro anos a modificar o Rio Grande, palmilhando o caminho para a sociedade e o Estado que o professor Maestri quer desde já. (*) Assessor do Governador Olívio Dutra e ex-secretário estadual de Cultura. |
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