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25 de abril de 2002 |
Venezuela O apoio popular é o que garante Chávez no poder
Renato Rovai
Hugo Chávez ainda é presidente da Venezuela porque mantém muito alta sua popularidade entre a população mais pobre. E por contar com apoio de setores importantes das Forças Armadas. As denominadas organizações da sociedade civil venezuelana estão na oposição. A grande maioria da classe média e alta também. Os meios de comunicação idem.
Em termos genéricos pode-se dizer que a Venezuela vive uma guerra de classes sociais, que tem contornos claramente ideológicos. E a temperatura dessa luta é extremamente alta. De um lado, os miseráveis e pobres, aliados a uma parcela minoritária da classe média e intelectual que tem compromisso com a distribuição de renda e a justiça social e entende que com Chávez a construção desse projeto é possível. De outro, gente que abomina ver e ouvir seu presidente elogiar Fidel Castro e criticar o imperialismo americano ou ainda falar em revolução bolivariana. Aos que se juntam pessoas e organizações da sociedade civil que se assustam com as ações e discursos autoritários de Chávez. E que temem que "o país esteja caminhando para um regime de exceção com algumas pinceladas de esquerda", como afirma o secretário-geral do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Imprensa da Venezuela, Gregório Salazar, 49 anos. Entre aqueles que defendem o atual presidente, o argumento de Salazar é rechaçado assim: "Aqui na Venezuela nunca houve um político que governou para os mais pobres. Aqui os filhos dos pobres não tinham direito a comer. Por isso o povo da Venezuela foi para as ruas e deu uma aula de democracia. Foi para a rua e garantiu o seu governo, o seu presidente. A gente sabe que aqueles que o querem derrubar estão preocupados apenas com seus interesses econômicos", diz Emilson Torres, vendedor de seguros. Esses discursos tão diferentes pontuam uma clara divisão de entendimento do atual momento e dos chamados "riscos para a democracia" na Venezuela. Nada está tranqüilo por aqui. Para se ter uma idéia do tamanho da oposição a Chávez, o primeiro decreto do governo golpista liderado pelo presidente da Fedecamaras (a federação dos empresários da Venezuela), Pedro Carmona, entre outras coisas suspendia o mandato dos deputados da Assembléia Nacional, convocava eleições constituintes para dezembro, tirava de seus cargos todos os membros do Tribunal Supremo de Justiça. Mesmo com tantas arbitrariedades, já que tanto Chávez como os parlamentares haviam sido eleitos e a Constituição que estava sendo violada havia passado por referendo popular, o documento foi assinado pelo cardeal Ignácio Velasco (Igreja), José Curiel (representando os partidos políticos), Rocio Guijarro (pelas Ongs), Miguel Angel Martinez (meios de comunicação), Manuel Rosales (governos regionais), Carlos Fernandes (Fedecamaras), Julio Brazón (Consecomercio, entidade dos comerciantes) e Ignácio Salvatierra (bancos). Tudo indica que Chávez e aliados têm clareza de que os dias que se seguirão não serão fáceis. Por isso mesmo, o presidente tem dito que cometeu erros e que está disposto a corrigi-los. Mas, a maior parte da oposição não parece disposta a ouvi-lo. Quer mudanças já. Pede novas eleições. O que é considerado golpe pelo governo, que gostem ou não seus críticos, foi eleito há um ano, em primeiro turno, com 58% dos votos. E que aprovou a constituição num referendo popular, a mesma que seus opositores agora querem rasgar. |
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