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La insignia
25 de abril de 2002


Brasil

A luta de Serra


Laerte Braga


O resultado da última pesquisa do Instituto Vox Populi, divulgado hoje pelos principais meios de comunicação do País, traz dados novos e interessantes, sobretudo se comparados às pesquisas do IBOPE - Instituto Brasileiro de Opinião e Pesquisas - que, é algo como uma organização quase oficial. Mas mesmo o IBOPE mostra um empate técnico entre o ex governador Anthony Garotinho e o candidato do governo, o senador José Serra. Como um crescimento de Lula para além dos índices obtidos nas eleições anteriores. Lula rompeu uma barreira.

Os dados refiro-me aos divulgados pelo Vox Populi, são a rejeição ao governo FHC (cerca de 60% não votam em candidato indicado por ele) e o "problema" Garotinho.

O prefeito da cidade do Rio de Janeiro, César Maia, do PFL - Partido da Frente Liberal -, pode ser meio maluco aos olhos de alguns (não é), mas por isso não deixa de ser alguém muito inteligente, com rara perspicácia para observações eleitorais e não houve nenhum despropósito quando disse que Serra poderia deixar de ser o candidato do governo.

As duas pesquisas são dois recados sérios para o candidato. As manchetes políticas dos principais veículos de comunicação sinalizam para Serra as suas dificuldades, no que pode ser (por que não?) um recado de setores do próprio governo. Uma dessas manchetes dizia que Serra é candidato do Palácio e não do PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira -.

Uma outra notícia, essa publicada em nota numa coluna de prestígio, afirma que FHC não conseguiu segurar o governador do Ceará, Tasso Jereissati. Não vai mexer um dedo para Serra e, mesmo que diga o contrário, vai mexer as duas mãos para Ciro Gomes.

O ex ministro da Saúde é um obstinado. Um cabeça dura. Ao longo de sua carreira cultivou mais inimigos que amigos. É irascível, soberbo, acha, como FHC, que o mundo começa e termina nele e, agora, paga o preço dessa arrogância e entre seus próprios pares.

As declarações do governador de Minas, o ex presidente Itamar Franco, concitando o seu partido, o PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro - a rever sua posição e a sair com candidato próprio, deixando de lado a candidatura Serra, tem um objetivo claro: Aécio Neves para presidente. Itamar livra-se de um adversário de peso no processo sucessório no Estado, mas seu amigo e assegura sua reeleição. Tudo como conseqüência da decisão do TSE - Tribunal Superior Eleitoral - que, no duro, pode é acabar de afundar a candidatura oficial.

É tal o embrulho em que está metido José Serra que, a essa altura da corrida presidencial, faltando pouco mais de 5 meses para a eleição, ninguém aposta um centavo em sua vitória, muitos apostam que não chega ao segundo turno. A galope vem o candidato Garotinho.

Esse é outro problema do governista. Garotinho é um aventureiro, não tem escrúpulo nenhum. Para nada. Vem montado nas "quadrilhas" evangélicas (neo pentecostais), um dos grandes males do Brasil atual, aliás, um dos grandes riscos.

O mesmo esquema utilizado para liquidar com Roseana Sarney, uma série de acusações, todas verídicas, de corrupção, banditismo no governo do Estado do Rio, fraudes de todos os matizes e naturezas, tudo em dossiê, está à disposição de quem quiser. E ninguém quer. Essa é uma briga que o governo vai ter que comprar se quiser fechar o cerco e levar, aos trancos e barrancos, seu candidato para o segundo turno.

Bem que desejaram que o PT - Partido dos Trabalhadores - comprasse essa empreitada. Tentaram fazer com que Benedita da Silva, governadora que o substituiu e vai disputar a reeleição contra sua mulher, Rosinha Garotinho, mordesse a isca. Não deu. Embora estejam sendo mostradas as trapalhadas do candidato e ex governador, nada de espetáculos para não colocar empada na azeitona de Serra e azedar a de Lula.

Não há histeria no procedimento do partido de Lula. Sabe que o problema é do governo. E esse tipo de prática é a marca registrada dos tucanos. O receio de reação da opinião pública a uma eventual ação contra Garotinho, deixando claro as manobras governistas para liquidar adversários incômodos e escolher adversários que julga batíveis, tem segurado a avalancha de denúncias contra o ex governador. Se não tiver jeito, fazer o quê? É para isso que estão aí a Polícia Federal, a ABIN - Agência Brasileira de Informações -. Essa é a cabeça de Serra. Acredita que tudo tem quer ser feito para que, na prática, tenhamos uma nomeação e não uma eleição.

As outras cabeças, de figuras do governo, do PSDB, do PMDB, começam a perceber que Serra é uma furada sem tamanho. É só o in pectori de FHC. E candidato dele mesmo. De sua teimosia em não enxergar a realidade. O PFL, que tem em torno de si o maior número de banqueiros por metro quadrado, já disse, por suas duas principais lideranças (Jorge Bornhausen e Antônio Carlos Magalhães) que, retornar ao governo só com outro candidato.

A luta de Serra no dia a dia da campanha começa aí. Todas as manhãs, após a leitura dos jornais e depois de assistir aos principais telejornais em rede nacional, tem que sair correndo atrás do prejuízo. Tentar consertar toda a sorte de estragos montados contra sua obsessão presidencial. Eu tenho até um palpite que quando levanta, tem fama de dormir menos de quatro horas por noite, o candidato olha-se num espelho e pergunta-se: "se o Fernando pode, por que eu não?"

Para o governo, mesmo que Aécio Neves, o nome posto para o lugar de Serra, seja um candidato sem arestas, a decisão é problemática. Para a aliança que apoia José Serra nem se fala. Já é um saco de gatos e ratos, vai virar depois um desastre. Só Itamar ganha nessa. Aécio escapa ao controle de FHC, tem outra direção e, na hipótese de substituir Serra, vira um candidato do partido e da aliança, mas não de FHC.

Outro nome além de Aécio? Difícil. Tasso Jereissati, que disputou a indicação tucana com Serra, racha o partido, tanto quanto Serra. Inventar um nome? Mais complicado ainda. Lula ultrapassou a barreira dos 35% já nas pesquisas para o primeiro turno e caem sistematicamente seus índices de rejeição.

Sem falar que FHC contava segurar a explosão de seus equívocos (para dizer pouco) no governo até o final do ano, ou seja, até que tivessem passadas as eleições. O volume de fraudes, atos de corrupção, é de tal ordem, que o dique está arrebentando. E nem a conjuntura internacional ajuda. Pelo contrário. Se Lula não disser nenhuma bobagem, não inventar de meter os pés pelas mãos, como costuma fazer, outro vaticínio de César Maia pode vir a acontecer: ganhar no primeiro turno.

Para quem há um mês atrás começou a despencar nas pesquisas. Para quem tem dito um monte de asneiras e sido vítima de algumas trapalhadas, Lula tem que "passar a mão no toco", como dizemos os mineiros, que a presidência está caindo no seu colo.

Se bem conheço a dupla FHC/Serra, os dois vão tentar, de todas as formas, ir até o final. Achando que na hora agá fazem um milagre. Disputam o caráter de divindades. Acreditam que têm estoques de raios, trovoadas, todos esses ingredientes para fazer chover do jeito que querem, só na horta deles.

Os próximos quinze dias serão decisivos para José Serra. E tudo isso sem falar que a principal figura do País, do governo, a que de fato manda, desmanda, faz o que quer, e tem feito isso há sete anos, Pedro Malan, não tolera Serra. Não suporta o candidato do presidente/gerente.

Ou que a turma de apoio (deputados, senadores, governadores, deputados estaduais) começa a ficar preocupada. Suas candidaturas e eventuais eleições, dependem de um bom desempenho do candidato presidencial. Se já difícil sem esses problemas todos, imagine agora. É só fechar os olhos e mentalizar um barco afundando e os ratos pulando. O que a ratazana vai fazer, por enquanto é uma incógnita.

Um dos políticos brasileiros mais oportunistas da atualidade, o suplente de deputado Bonifácio Andrada, da extrema direita (até hoje antes de deitar dá uma olhada debaixo da cama para ver se não tem comunista), tem dito às suas bases: "trabalhem minha candidatura, deixem esse negócio de Serra para lá que isso é fria". O cara tem faro canino. Sabe onde o põe pé para continuar a colocar a mão, o que vem fazendo sistematicamente. Os outros? Não são idiotas. Fazem o mesmo. Ali, qualquer um desentorta banana.



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