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25 de abril de 2002 |
Crise na Argentina Duhalde decide ignorar caos social e insistir no receituário do FMI
Emir Sader
A Argentina de Eduardo Duhalde terá 20 milhões de pobres em breve e verá o salário real médio cair à quarta parte do que era em 1975. Mesmo assim, o governo ainda deposita todas as esperanças num novo empréstimo do FMI.
A Argentina está a pique. O governo Duhalde depositou todas as esperanças num novo empréstimo do FMI. É como se, depois de ter tomado uma dose cavalar de um remédio, com graves efeitos colaterais, se peça uma nova dose, ao invés de ir reclamar na defesa do consumidor. Desde 1976 a economia argentina se baseou em empréstimos externos, na valorização financeira e na transferência de recursos ao exterior. Desde então o desemprego aumentou em 350% e os salários perderam 60%. Depois de 1998, quando começou a recessão atualmente ainda vigente, as coisas pioraram de forma ainda mais acelerada. O desemprego aumentou em quase 40% desde então, a pobreza em mais de 30% e a indigência em 90%. Se as previsões de inflação são cumpridas, pelos índices de outubro haverá 20 milhões de pobres, a metade dos quais serão indigentes. Em outubro do ano passado, antes da agudização atual da crise, um de cada três desempregados levava seis meses para arrumar emprego, índice que era de 40% entre os jovens. Mais de um milhão de jovens entre 15 e 24 anos não estudam nem trabalham. O salário real médio será a quarta parte do que era em 1975 e pouco mais da metade do que era em 1980. A inflação para os mais pobres será de 70% e para os mais ricos de 30%. Na província de Buenos Aires, em maio de 2000 havia 15.330 pessoas na prisão. Em 5 de abril deste ano, o número chega a 24.271, crescendo em quase 9 mil pessoas, um aumento de 60% em dois anos. Quase a metade desse incremento se dá nas delegacias de polícia, que abrigam 6.888 presos, retendo nelas contingentes cada vez maiores de policiais e enfraquecendo ainda mais o policiamento nas ruas. De todos os presos na província de Buenos Aires, quase 75% o estão por ter cometido pela primeira vez um crime. Ao longo dos anos 90, o setor privado foi deficitário em termos de geração de divisas, déficit coberto pelo setor público, que se endividou para isso. O fundamento do endividamento público terminou sendo a cobertura da fuga de capitais privados. A linha de endividamento privado é exatamente paralela à linha da fuga de capitais, demonstrando como um se faz em função da outra. De cada dólar que entrou na Argentina, apenas 0,30 centavos foram investimentos diretos e deles apenas 0,10 centavos serviram para aumentar a capacidade produtiva. Destes, apenas a metade foi aplicada em investimentos que pudessem exportar. Dois terços dos investimentos externos serviram para comprar empresas existentes no país. A taxa média de investimento na década passada foi de 18%, mas somente a décima parte veio de investimentos externos. Desde 1998 os recursos do FMI representaram 1,6 bilhão de dólares por ano, apenas 1,7% de todo o capital agregado pelos setores público e privado, estadual e municipal. Em nenhuma empresa um acionista tão minoritário pode decidir o futuro dela, menos ainda de um país. |
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