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20 de abril de 2002 |
Brasil Vices para quê?
Marco Aurélio Nogueira
De repente, fez-se o silêncio em torno dos nomes que irão ocupar o lugar de vice nas próximas eleições presidenciais.
Talvez porque incomodado com a recusa de Jarbas Vasconcellos ou com o vai-e-vem manhoso e recalcitrante do PMDB, o senador José Serra passou a se mostrar desinteressado da resolução do problema. Juntamente com outros próceres governistas, passou a dizer que o mais importante, agora, não é discutir nomes, mas estabelecer confluências programáticas e elaborar uma plataforma a ser apresentada aos eleitores. Talvez porque alertada pela reação de sua militância a uma coligação com o PL, a cúpula do PT passou a desconversar: o partido quer chegar às eleições com um programa afinado e substancioso, e não tem qualquer interesse em apressar a escolha do vice de Lula. Ele poderá sair até mesmo dos próprios quadros partidários e, portanto, ser tranqüilamente definido bem mais à frente. Pura dissimulação. O que os candidatos e dirigentes estão tentando é esconder suas falhas, fraquezas e dificuldades. Falam uma coisa, mas no fundo querem outra: desejam ardentemente aquilo que dizem desprezar. A escolha de um vice não é insignificante. É tão delicada que deveria exigir dos políticos total seriedade e rigor. Menos açodamento e ansiedade, mais critério e visão estratégica. Ela se põe no coração de qualquer política de alianças, assim como a distribuição de cargos após uma vitória nas urnas. Não perceber isto é ficar fora da política. É brincar de fazer alianças, ou fazê-las apenas de modo instrumental, sem adesão consistente e sem entusiasmo. Só para ganhar alguns minutos a mais no horário gratuito ou desarmar uma ou outra resistência localizada, por exemplo. Um vice simboliza um compromisso, um rateio, um compartilhamento. Ainda que muitos pensem que o cargo é decorativo, pois quem manda mesmo seria o presidente, trata-se de uma questão de grande política, ainda que não se separe da pequena política (futricas, maledicências, armações, golpes sutis, etc.). Para o candidato, um vice é um suporte importante, normalmente uma ampliação, bem como um recurso para penetrar ambientes hostis ou ainda não conquistados. Um bom vice é sinônimo de peso político e peso eleitoral: tem a ver com aquilo que os partidos querem sinalizar para o eleitor e para a opinião pública - algo que se destina, portanto, a produzir legitimidade e respeitabilidade - e também com o modo como concebem a captura de votos. Um erro na escolha pode comprometer muita coisa. O caso mais grave no momento é seguramente o do candidato do PSDB. Antes de tudo porque foi este partido o que mais se vangloriou, nos últimos anos, do valor em si das coligações. Se, agora, está obrigado a pagar um alto preço para se aliar, acaba por deixar a impressão de que seu candidato talvez não seja assim tão "desejado" pelos parceiros potenciais. Depois, porque a recusa de Jarbas Vasconcellos pôs na mesa um retrato que não se queria revelar: o aliado preferencial do senador Serra é um partido repleto de fissuras regionais, incapaz de se unir num momento delicado e declaradamente disposto a vender caro sua adesão. Um parceiro, quem sabe, menos confiável do que se imaginava. O prolongamento da indefinição não contribui para legitimar a candidatura Serra no formato concebido por seus estrategistas: um candidato capaz de superar o esquema com que FHC governou o País nos últimos oito anos e reformular o eixo de sua base de sustentação política, trocando a centro-direita do PFL por um partido de centro que opera, ainda hoje, como herdeiro de grandes tradições de luta democrática. O desgaste é tão grande que estimula até mesmo um desesperado discurso sebastianista: faça-se o que for possível para trazer o PFL de volta ao ninho. E fomos levados a assistir, boquiabertos, nas últimas semanas, à exibição do mais puro servilismo político, com líderes tucanos se esmerando em afagar pefelistas "magoados" e ofendidos. Seria trágico - para a democracia brasileira - se, de repente, como se nada tivesse acontecido, as cortinas se fechassem sobre o abraço comovido dos que passaram parte da trama trocando alfinetadas, jurando guerra e se estapeando como inimigos. Escolher um vice não é tarefa fácil. Muito ao contrário: as vontades medem-se aqui, como nunca, com as circunstâncias. O que se está a dizer é que o açodamento inicial com que os candidatos se lançaram à definição de seus companheiros de chapa voltou-se, agora, contra eles, complicando o que parecia ser uma trajetória com mais flores que espinhos. (*) Professor de Teoria Política da UNESP, Campus de Araraquara. E-mail: m.a.nogueira@globo.com |
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