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18 de abril de 2002 |
Brasil Religião e eleição
Frei Betto
A campanha eleitoral deste ano terá, sem dúvida, a religião como cabo-eleitoral. Para muitos fiéis, esta hipótese é de torcer o nariz. Consideram esta mistura de fé e política como inadequada e, inclusive, oportunista.
"Não há nada mais político do que dizer que a religião nada tem a ver com a política", disse o bispo sul-africano Desmond Tutu. Na América Latina, não se pode separar fé e política, assim como não seria possível fazê-lo na Palestina do século I. Na terra de Jesus, quem detinha o poder político, detinha também o poder religioso. Talvez soasse estranho hoje a certos ouvidos religiosos introduzir a leitura do Evangelho falando de Bush e Blair ou de Benedita da Silva e Itamar Franco. No entanto, ao introduzir-nos nos relatos da prática de Jesus, Lucas (3,1-2) primeiro nos situa no contexto político, informando-nos que "já fazia quinze anos que Tibério era imperador romano. Pôncio Pilatos era governador da Judéia, Herodes governava a Galiléia e seu irmão Felipe, a região da Ituréia e Traconites. Lisânias era governador de Abilene." Fé e política estão sempre vinculados em nossas vidas concretas. Como seres sociais que somos, impossível separar as duas coisas. A questão é saber se levamos à política os valores do Evangelho ou usamos a religião como trampolim político. E se a religião se limita aos fiéis que nela crêem, a política jamais pode privilegiar uma religião, pois é um serviço ao bem comum, a todos os cidadãos, sem nenhuma forma de discriminação. Nem mesmo em Jesus é possível ignorar a íntima relação entre fé e política. Todos nós cristãos somos inelutavelmente discípulos de um prisioneiro político, pois Jesus não morreu de hepatite na cama. Foi preso, torturado e assassinado por ousar anunciar, dentro do reino de César, o reino de Deus. |
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