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17 de abril de 2002 |
Venezuela Golpe e contragolpe
Dejalma Cremonese (*)
A Venezuela, quarto maior país exportador de petróleo do mundo, tem enfrentado, nas últimas semanas, inquietações de grandes proporções em sua conjuntura econômica, político e social. A instabilidade social e o descontentamento de boa parte da população acarretaram o que há muito se anunciava, isto é, que a direita venezuelana, mais cedo ou mais tarde, sustentada por setores da classe média e da Igreja Católica, empresários, militares dissidentes e imprensa tentaria depor a Hugo Chávez. E isso, de fato, aconteceu no último dia 11.
Vários analistas do governo dos EUA, assim como em alguns editoriais dos principais meios de comunicação do país, chegaram a celebrar a queda de Hugo Chávez como um "resgate" da democracia. O Editorial do New York Times, afirmou: "com a renúncia ontem do presidente Hugo Chávez, a democracia venezuelana já não está ameaçada por um pretendido ditador". E complementa: "Washington tem um forte interesse na recuperação da Venezuela. Caracas satisfaz agora 15 por cento das importações de petróleo estadunidenses e, com políticas mais saudáveis, poderia dar mais". O Times, por sua vez, afirmou que "sabiamente" Washington nunca atacou diretamente a Chávez, evitando assim convertê-lo em um "mártir nacionalista". Assegura que "sua remoção foi um assunto puramente venezuelano". O diário opina que deveria convocar novas eleições o mais rápido possível e elogia a ativa participação das classes média e os movimentos civis, os quais "poderiam" ajudar a revitalizar a democracia do país e "manter a participação militar no mínimo". "Estamos fazendo um esforço bastante contundente para não chamá-lo de golpe", comentou ao Washington Post, um ex-oficial militar estadunidense que analisa a política externa para a América Latina. O jornal francês Le Monde chamou a Hugo Chávez de "excêntrico que atraiu a hostilidade de setores inteiros da sociedade". A razão de sua queda, segundo o jornal, foi a "excessiva confiança em si mesmo" e por "menosprezar as manifestações e greves". A gestão do governo Chávez foi marcada, segundo o jornal espanhol El País "pela provocação e o abuso da discrepância" o que ocasionou a queda do presidente venezuelano do poder por um "levante cívico-militar". O governo norte-americano jamais escondeu sua aversão e desprezo por Chávez que há muito tempo vinha fazendo pronunciamentos "antiamericanos". Eis alguns exemplos da indisposição de Chávez contra o governo dos EUA: em outubro passado Chávez fez críticas a guerra dos EUA contra o Afeganistão, afirmando que se estava "lutando contra o terror com terror" e mostrou fotos de crianças mortas no Afeganistão, fato que causou a ira de Washington. Em fevereiro deste ano o Departamento de Estado e a CIA expressaram sua "preocupação" pelas atividades de Chávez e seu governo. Chaves já estava sendo acusado de manter vínculos suspeitos com países considerados inimigos pelos Estados Unidos, entre eles Cuba. No mesmo mês, o secretário de Estado, Colin Powell, declarou ante o Congresso que Chávez visitava países "estranhos", em referência a suas viagens à Líbia, Iran e Iraque. Todos os países referidos estão na famosa lista dos "estados inimigos" que fomentam o terrorismo. Freqüentemente, funcionários e analistas de Washington mencionavam os vínculos de Chaves com "Fidel Castro e Saddam". Além de acusar o governo de Chávez de estar apoiando grupos antigovernamentais em outros países, segundo "informes de inteligência" citado no Washington Post, inclusive o acusavam de manter vínculos com as FARC da Colômbia, além de reativar a OPEP para defender o preço do petróleo, respaldar a revolução cubana, ser defensor do Mercosul, crítico da ALCA e opositor do Plano Colômbia. Tudo isso foi suficiente para que o governo Chávez fosse deposto... O que ninguém esperava é que, em tão pouco tempo, ele reassumisse a presidência num contragolpe espetacular. O governo golpista do empresário Pedro Carmona Estanga não resistiu à pressão da população venezuelana, constituída essencialmente de campesinos e excluídos, que desceram da periferia de Caracas e se concentraram durante todo o último sábado em frente ao Palácio presidencial Miraflores pedindo a volta de Chávez. Na madrugada de domingo, Chávez era reempossado... Os rumos do governo Chávez são uma incógnita. O que se evidencia hoje na sociedade venezuelana é a profunda polaridade entre os que defendem e os que são contra o governo. E algumas perguntas pairam no ar: Chávez continuará com sua política de enfrentamento ao imperialismo americano? Até que ponto poderá implementar as reformas de base que contemplem a maioria da sociedade do país? Qual será sua postura em relação aos rebelados? A polarização entre ricos e pobres será pauta de sua política? É esperar para ver... (*) Professor do Departamento de Ciências Sociais da UNIJUÍ - RS (E-mail): dcre@main.unijui.tche.br - (site): http://www.unijui.tche.br/~dcre/ |
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