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La insignia
16 de abril de 2002


Brasil

FHC: mal assessorado ou mal intencionado?


João Pedro Stedile
Caros Amigos. Brasil, 16 de abril.


O presidente FHC estufou o peito para, em tom de campanha eleitoral, dizer em recente comício no Estado do Mato Grosso que seu governo já desapropriou nada menos do que 20 milhões de hectares, uma área equivalente ao estado do Mato Grosso do Sul. E ainda emendou: "a maior reforma agrária da história contemporânea".

Não precisa pesquisar muito. Basta consultar a página na internet do Incra e procurar, dentro de Superintendência do Desenvolvimento Agrário, o relatório da Coordenação Geral de Monitoramento do Incra. Lá está descrito que, de 1995 a 2000, o governo desapropriou 10.322.192 hectares. E que até 19 de dezembro de 2001 teriam sido desapropriados aproximadamente um milhão de hectares. Portanto, somando o período 1995-2001, apenas a metade do que diz a propaganda foi desapropriado (um total de 11 milhões de hectares).

E mais! Cerca de 63% de todas as terras desapropriadas se referem aos estados do Pará, Maranhão, Mato Grosso, Amapá e Rondônia, ou seja, a Amazônia. Assim, onde o governo desapropria, vira um prêmio para os fazendeiros, que na maioria dos casos grilaram ou compraram terras públicas a preços irrisórios.

O que o presidente-sociólogo esqueceu de dizer é que no seu governo a concentração da propriedade da terra aumentou ainda mais.

Segundo o Incra e seu cadastro, entre 1992 e 1998 os imóveis que possuem mais de dois mil hectares passaram de 19.077 para 27.556 fazendas. Assim, essas fazendas acumulavam 121 milhões de hectares em 1992 e 178 milhões de hectares em 1998. Em apenas seis anos aumentaram nada menos do que 57 milhões de hectares, em fazendas acima de dois mil hectares. Ou seja, os grandes fazendeiros acumularam seis vezes mais do que o presidente falastrão diz ter distribuído aos pobres.

Pior, o presidente esqueceu de dizer que durante o seu governo apenas uma empresa, a construtora CR Almeida, de Curitiba, acumulou uma área de quatro milhões de hectares no estado do Pará.


(*) João Pedro Stedile é membro da direção nacional do MST.



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