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La insignia
2 de abril de 2002


México

Tigres à solta


Newton Carlos
Correio da Cidadania. Brasil, abril de 2002.


Os povos sempre foram melhores de que seus líderes. Palavra de Jules Michelet falando de revoluções, chefes revolucionários e frustrações populares. A França, país de Michelet, tem arquivos cheios de documentação sobre isso e é o que agora se vê com Mugabe. Ele foi o herói das lutas contra o domínio inglês na antiga Rodésia, depois da independência Zimbabwe, e no poder tornou-se um déspota com ares de "dandy" na fachada.

Boa parte das misérias africana resulta dessas transmutações. Na América Latina, o exemplo mais trágico é o do México. O livro "Mal de Amores", de Angeles Mastreta, trata das origens da revolução de 1910, cataclisma social e político que pregou no México a imagem de rebeldia. O "México profundo" levantou-se em armas. O México dos pobres sem identidade metidos em desfile interminável de desgraças. Angeles chora esse México, "sangrado pelos que deviam ser seus redentores", os chefes revolucionários.

O vaivém de cavalarianos de cartucheiras atravessadas no peito, espingardas, "sombreros" e bigodes à Zapata encarnava disputas palacianas, o desfecho sinistro. Os tronos eram tomados e largados, de um dia para o outro, na capital mexicana. "Os piores vão acabar mandando", falou um dos estropiados da corte de Emilia, heroína de "Mal de Amores", cansada de guerras. Emilia abraça de corpo e alma as doenças e feridas de seu povo, dilacerado pela brutalidade dos combates.

A revolução foi feita para acabar com os abusos de um general, o ditador Porfírio Diaz, e com ela se multiplicaram os abusos e os generais. "Soltaram os tigres", avisou Porfírio quando caiu em 1911, escorraçado do poder pela revolução, depois de exercê-lo com mãos de ferro durante 35 anos. Também ele, em início de carreira, se dizia "protetor dos pobres". Perdeu o trono para outros protetores. A seqüência de sempre.

De que tigres Porfírio estaria falando? Dos pobres mais uma vez cobrando justiça? Porfírio cercou-se de tecnocratas para "organizar" o México e "incorporá-lo ao mundo civilizado". Situações e linguagem familiares. A "modernidade" massacrou de tal modo o "México profundo", que os tigres saltavam por todos os lados, e terminaram por encurralá-lo. O intelectual Madero, de família rica, mas sem estômago para o "porfiriato", unificou os focos de rebeldia. Juntou-os numa só rebelião e derrubou a ditadura. Madero tombou assassinado.

Também foram mortos Emiliano Zapata e Pancho Villa, heróis populares. O Partido Revolucionário Institucional, ou PRI, afinal quebrado nas urnas, veio daí. Passada a sangueira iniciada em 1910, criou-se o partido em 1929, e a cúpula do poder tornou-se espaço mafioso. Cenário de revolução considerada uma das mais importantes do século, anterior à russa, o México acabou na bandidagem. Com o novo presidente, Vicente Fox, o pós-PRI, os pobres continuam na pior e os tigres continuam à solta.



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