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2 de abril de 2002 |
Brasil Nem tudo está perdido Laerte Braga
Nem todos os juízes chamam-se Nelson Jobim. Marcus Vinícius Reis
Bastos, juiz da 12ª Vara da Justiça Federal, em Brasília, determinou que
os 16 líderes do MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra -
presos arbitrariamente pela Polícia Federal sejam postos
em liberdade.
O juiz fundamentou sua decisão no fato de serem todos primários, terem ocupações e endereços certos, mas fez alusão também à violência do governo FHC. No seu despacho afirma que uma propriedade privada não é um bem público como se pretendeu fazer crer (Ridículo o ministro Jungman falando em símbolo) e a competência é da Justiça Estadual de Minas Gerais. Como sempre, a estatal "Globo" em seu principal boletim, o das 20 horas, noticiou o fato pela metade, falando apenas da garantia legal para que acusados primários e de bons antecedentes, com trabalhos e endereços certos, respondam a processos em liberdade. O (des) governo FHC, através dos seus loquazes porta vozes, quando se trata de tripudiar sobre seus adversários, não falou nada. O ministro da Justiça (parece brincadeira mas o título é esse) deve ter perdido a voz. O Brasil amanheceu sob o impacto da foto, em quase todos os grandes jornais, do dirigente do MST, Mário Lill, entregando uma bandeira do movimento ao líder palestino Yasser Arafat. Foi possível saber a diferença entre determinação, coragem, dignidade e os que estão do outro lado, o lado da bandalha. Jungman, por exemplo. Não sabe, desde muito, o que são princípios e falou do fato como se um absurdo tivesse sido cometido. Não passa pela cabeça de uma figura subalterna, atolado em corrupção até a medula, com o hábito da mentira como prática de vida, que possa existir no mundo gente como Mário Lill. Capaz de uma atitude desassombrada e marca registrada dos homens de ideal e recheados de honra. Jungman nem passa perto. FHC, então... É evidente que o ato de Mário Lill não foi isolado. Terá sido a decisão coletiva de seus companheiros. Isso só o engrandece. A percepção de que a luta do povo Palestino é a luta de todos nós. Registramos aqui 40 mil homicídios por ano e Jean Ziegler, que denunciou o "estado de guerra social" entre nós, para o governo é "louco e desonesto". Os oito anos de FHC têm a marca registrada da pusilanimidade. Da falta de caráter. Cada dia que passa vão sendo descobertas as trapaças, os crimes de lesa pátria, toda a sorte de canalhices praticadas contra o Brasil e o povo brasileiro. Diminuiu o PIB - para usar um índice tipicamente capitalista -. É vergonhoso o número de brasileiros sem água, sem esgotos. E ainda querem privatizar o setor. Essa história de privatização é crime continuado, no mínimo. Aumentou a concentração de renda. Há perspectivas de grave crise energética no próximo ano (depois das eleições). A violência tomou conta das grandes cidades. A saúde está na UTI - Unidade de Terapia Intensiva - e a Educação foi privatizada na forma mais vergonhosa possível. Isso e muito mais. Somos um país privatizado, quintal do capital internacional e submetidos ao mais cruel e perverso assalto já praticado contra um povo. É regra geral em todo o continente latino-americano. Em todo o mundo. O gesto de Mário Lill, vai além da coragem em enfrentar selvagens israelenses, bárbaros. Traz consigo a percepção de que a luta de classes é a única realidade palpável nos dias de hoje. Vivemos um momento agudo, em que o capital busca na insanidade de Bush submeter cada voz resistente. Para isso é que contam com gerentes como FHC. A violência cometida contra Palestinos está em cada canto do mundo. Nas bombas despejadas no Afeganistão. Nas ameaças ao Iraque. À Líbia. Ao Irã. Nas definições bêbadas de um presidente louco ao classificar países inimigos como "eixo do mal" e, no silêncio diante das atrocidades cometidas por Israel. Milosevic está no banco dos réus apenas por decorrência da lógica dos vencedores. Um princípio sórdido que transforma canalhas em gente de bem por força das bombas e da covardia de muitos Tony Blair, Berlusconi, FHC, etc, etc, espalhados pelo mundo. Sharon é um criminoso. Tem que ser detido, preso e julgado por crimes contra a humanidade. A desfaçatez de sua ação não tem limites. Ignora tratados internacionais, regras mínimas de direitos humanos e, rigorosamente, busca eliminar um povo inteiro, o povo Palestino. A grandeza de Mário Lill está aí. Na capacidade de ser solidário. Com o risco da própria vida. O cidadão comum, o camponês, atravessando um oceano e entregando uma bandeira como símbolo da liberdade, da fraternidade, da luta e da resistência ao primitivismo de um Átila contemporâneo. Um louco sem medidas, apoiado por outro louco. A mediocridade de FHC e seus ministros é a outra ponta. Oito anos de corrupção. De entrega deliberada de um País. De violência dissimulada no ter aprendido a degustar vinhos de 6 mil reais cada garrafa e uísque de 600 reais também a garrafa. No sorriso cruel e pérfido quando finge indignação. Típico do sujeito ao qual não se pode dar as costas. Pena que Lula não esteja entendendo nada. Tenha se deixado seduzir pelo canto da sereia do projeto político pessoal. Sorte que existam figuras como Mário Lill e movimentos como o MST. Do contrário já teríamos sido transformados em meros robôs nesse processo neo liberal de coisificação do ser humano. A guerra de Israel contra os Palestinos é luta de classes. É entre banqueiros, especuladores, contra trabalhadores. É a mesma dos argentinos. Dos brasileiros. Dos peruanos. De todos os latino-americanos. Dos africanos. Dos asiáticos. De todos os povos do mundo. As bombas que caem na Palestina são sentidas aqui, porque existe em cada um a certeza recôndita que, se necessário, para o controle dos donos, serão despejadas aqui também. O que o gesto do sem terra brasileiro, Mário Lill, mostrou, foi isso. É essa sua grandeza. A da coragem. A da compreensão. A do destemor diante de um quadro de selvageria. Como a decisão do juiz Marcos Vinícius Reis Bastos. |
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