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8 de julho de 2006 |
Luís Nassif
Não me canso aqui de elogiar a prodigalidade musical do Rio de Janeiro. Essa caixa de ressonância, no entanto, acabou jogando para segundo plano músicos fantásticos que se formaram fora da sua órbita de influência.
É o caso de Zequinha de Abreu, pianista contemporâneo do grande Ernesto Nazareth e que logrou construir uma obra enorme de valsas singelas, menos sofisticadas que a do mestre carioca, mas de choros clássicos, com influência maior sobre a formação do ritmo do que o próprio Nazareth. Zequinha é de 1880, paulista de Santa Rita do Passa Quatro. Dentre as suas valsas, existem clássicos eternos da música brasileira, como "Branca" e "Tardes de Lindóia", que todos conhecem, e "Último Beijo", que minha mãe conhecia, e que foi pouquíssimo gravado ("quando eu te beijei a última vez / me lembro claramente era noite de luar"). Com todas as lembranças que a música me traz, não ousaria dizer que pudessem se equiparar aos clássicos "choppinianos" de Nazareth. Mas no choro, meu amigo, sai de baixo: "Os pintinhos no terreiro", "Não me toques", trouxeram uma contemporaneidade ao choro que nem o próprio Nazareth foi capaz. É de Zequinha um dos clássicos brasileiros do século, um dos clássicos da música internacional, uma das músicas mais gravadas do mundo em todos os tempos, executada em todos os ritmos e sotaques: o "Tico Tico no Fubá". Experimente baixar no seu microcomputador um desses programas de "download" de música, e terá uma pálida idéia do que estou lhe dizendo. Se der sorte, conseguirá a gravação extraordinária da organista Ethel Smith, de 1941, com sucesso tão retumbante, que acabou por ser incluído na trilha sonora de cinco filmes norte-americanos da época, alguns com enorme sucesso como "Escola de Sereias", "Alô Amigos", "A Filha do Comandante", "Kansas City Kity" e "Copacabana". Poderá conseguir a gravação de Carmen Miranda, de 1945, uma interpretação portentosa, ou de Dalida (veja o vídeo), contemporânea. Depois de Carmen, é a melhor gravação de cantora que ouvi. No vídeo, além do balanço, Dalida está maravilhosa. Poderá ouvir "Tico Tico" orquestrado por Michel Legrand e Mantovani, Roberto Inglez e Ray Conniff, Perez Prado em mambo, Orquestra Tabajara em frevo, e Henry Mancini. Ou "swingado" por Stan Kenton, Charlie Parker e Tommy Dorsey. Pensará que é uma peça flamenga, com Paco de Lucia (veja o vídeo). Ou um jambo alucinado, com Desi Arnaz. Ouvirá em bandolim de diversos sotaques, como Les Brown e David Grisman, um norte-americano fantástico, ou os cavaquinhos de Waldir Azevedo e Garoto. Ouvirá com pianistas célebres, de Daniel Barenboim, Moreira Lima, Jacques Klein a Liberace. E até um hip-ho divertidíssimo de Lou Brega. Dentre minhas gravações favoritas estão quatro clássicos, do argentino Oscar Aleman, uma insuperável do Paquito de Rivera, a de Raphael Rabello, Armandinho e Paulo Moura, e a de Pixinguinha e Benedito Lacerda. E, no entanto, essa música que ajudou a consagrar o choro brasileiro no mundo, é de 1917. Naquele ano nasceu como "Tico Tico no Farelo", mas como tinha música com esse nome do Américo Jacomino (o "Canhoto", do "Abismo de Rosas"), virou "Tico Tico no Fubá". Ganhou letra de Eurico Barreiros em 1931 e só naquele ano recebeu a primeira gravação, da Orquestra Colbaz, do histórico maestro Gaó. Parte da história foi contada no filme "Tico Tico no Fubá" de 1952, devidamente romanceado. Zequinha era vivido por Anselmo Duarte, o maior galã da época. No filme, Zequinha era funcionário público na sua Santa Rita do Passa Quatro, que se torna noivo de Durvalina (vivida por Marisa Prado), mas se apaixona pela amazona de um circo que visita a cidade, a clássica Tonia Carrero. Depois rompe com a amazona, passa a beber, fica doente, muda-se para São Paulo e reencontra a musa a tempo de tocar pela última vez o "Tico Tico" e morrer. Zequinha morreu cedo, em 22 de novembro de 1935, aos 55 anos. Teve tudo para uma vida tranqüila. Tocava na histórica Casa Beethoven, ali na rua Direita, em bares da noite, tinha seu conjunto, recebia um salário mensal dos Irmãos Vitale, em troca de lhes entregar uma composição por mês. Mas tinha alma de artista. Deixou a viúva Durvalina, mais oito filhos cujos nomes começavam por D. E a alma partida de uma amazona de circo, que talvez nem tenha existido mas que, de qualquer forma, não importa. Jimmy Rosenberg Se você é fã desses guitarristas ultra-rápidos, que tocam limpo, eis aí um gênio à altura de Yamandu: o cigano Jimmy Rosenberg, uma reencarnação de Django Reinhardt com influência da música instrumental brasileira. A gravação em questão é de 1993, ele ainda um menino, mas já um gênio. Veja aqui. Ou então nesse documentário (clique aqui). |
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