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La insignia
7 de fevereiro de 2006


Brasil

Salvem a oposição!


Raul Longo
La Insignia. Brasil, fevereiro de 2006.


Não faz muito acompanhei em um fórum da internet, organizado por intelectuais que apóiam o governo Lula, a crítica a uma referência à oposição como "oposiçãozinha de merda". De fato, se o que se pretende é uma radicalização democrática no país, haverá que se respeitar e valorizar a função política dos oponentes e não permitir que o debate mantenha-se no tão baixo nível ao qual foi precitado no Brasil.

Previsíveis, os resultados das recentes pesquisas que demonstram a recuperação da imagem do presidente Lula refletem no próprio país o já consolidado reconhecimento mundial a uma das mais notáveis administrações democráticas deste início de século.

Seja na recuperação da desmantelada economia, na reparação da abandonada infra-estrutura básica, no surgimento de perspectivas onde só havia previsão de dependência, na conquista de representatividade internacional em substituição a mais abjeta subserviência, ou no enfrentamento responsável de crônicos problemas sociais; se derrubaram todos os vaticínios que previam a derrocada do país desde a primeira vez que Lula se anunciou candidato à presidência.

No entanto, estes mesmos resultados obtidos apenas três anos após um histórico de 5 séculos de estúpida espoliação dos recursos naturais e do povo brasileiro, demonstram que apenas iniciamos o caminho para a realização de nossos potenciais. O próprio Presidente Lula reiteradamente adverte que ainda há muito a ser feito, e ao insistir em que apenas deseja cumprir com os objetivos de seu mandato, nos aponta um horizonte ainda muito adiante de uma possível reeleição de seu governo, e mesmo de mais duas ou três sucessões presidenciais além.

Mal principiamos a liberar a tão longamente reprimida vocação de nossa terra e nossa gente, e quase já se nos abatem esse futuro sonhado e há muito previsto até mesmo por observadores estrangeiros. E quem é o capitão do mato que tenta alvejar a presa no seu início de busca de liberdade?

A primeira e mais fácil resposta é a armadilha do valerioduto e o engodo do imprevidente atalho tomado por Delúbio Soares, mas descaminhos e arapucas como as que utilizaram sempre povoaram o noticiário internacional, muitas vezes justificando a queda de ministérios inteiros. Disso muito já se ouviu falar em potências como China, Japão, Inglaterra, França, Itália, Rússia, Estados Unidos e diversos outros, que por tal não tiveram comprometidas suas instituições e governos. No entanto, não se entenda que aqui pretendo minimizar os erros de Delúbio e de toda a direção do PT. Muito pelo contrário, entendo que foram incalculavelmente mais irresponsáveis do que um Eduardo Azeredo, presidente do PSDB e beneficiário do mesmo valerioduto do qual usufruiu Delúbio. Ou que um José Serra, apesar de que mais criminoso seja o roubo da previdência dos funcionários de Furnas do que os empréstimos bancários do ex-tesoureiro do PT. Chegam a ser mais abjetos do que a hipocrisia de um Arthur Virgílio, passando-se por verdugo do mesmo crime que se confessou à imprensa como praticante.

Portanto, não papagueiem o argumento de que um erro não justifica o outro, pois aqui me refiro ao incalculavelmente maior significado dos erros da ex-diretoria do PT contra este sonhado país do futuro. Ao vir à tona, as roubalheiras promovidas pelos partidos da oposição tão só comprometem os esforços golpistas, enquanto os do PT iam comprometendo todo futuro do Brasil, retornando-o aos procuradores que engavetam processos de corrupção, às sujeiras sob o tapete como a nunca investigada denúncia de monopólio de genéricos pela família de Serra, então Ministro da Saúde. Devolveria-nos à impunidade dos manipuladores de votos do congresso, como o oligarca ACM; ou ao Bornhausen, apontado pelo Ministério Público por lavagem de dinheiro via BANESTADO. Aos encobrimentos das falências bancárias fraudulentas, das negociatas internacionais como a da vigilância de áreas estratégicas do território nacional. Às privatizações de nossas mais importantes empresas, encarecendo inúmeros serviços essenciais. Ao sucateamento e desmonte do patrimônio público, o abandono da infra-estrutura, à inviabilidade energética, à estagnação, desvalorização da moeda, inflação, dívida externa e desemprego.

O erro da deposta diretoria do PT não se atenua nem mesmo com a comprovação de que os empréstimos não envolveram dinheiro público e foram exclusivamente empregados para honrar compromissos partidários. Embora impeça até a profícua inventiva oposicionista e da imprensa para qualquer especulação sobre enriquecimento pessoal dos envolvidos, não atenua. Mas se não se pode justificar os erros do PT pelos erros do governo anterior, não será pelo mau comportamento da ex-diretoria do partido que se negará o governo Lula ter, em apenas três anos, revertido o recorde mundial de maior risco-país para o mais baixo índice da história, igualmente ao que fez com a inflação. Não dá para se ignorar a diminuição dos trágicos índices de violência urbana, ou o volume de exportação jamais registrado, resultado das tão criticadas viagens do presidente. Impossível mentir o entusiasmo internacional pelos programas sociais implantados, expresso em comentários de analistas e pronunciamentos de políticos e estadistas. A maior oferta de empregos das últimas décadas, introdução de inovações tecnológicas sequer imaginadas. Combate à corrupção como nunca antes, e, sobretudo, a surpreendente eliminação do maior empecilho ao desenvolvimento e autonomia econômica do país: o pagamento da dívida com o FMI. Em três anos. Menos de um mandato.

Se entendem que acusar a incompetência e a roubalheira do PSDB, é querer tapar os erros do PT com a peneira; usar a burrada de sua ex-diretoria para negar a incontestável eficiência administrativa de Luís Ignácio da Silva, é usar desse mesmo instrumento para tapar o Sol, a Lua e segurar o oceano. Intento da mídia nacional que vem sendo ridicularizado e reprovado pela sociedade internacional e por seus colegas da grande imprensa de norte América, Europa e vizinhos sul-americanos.

Julgar, condenar e afastar os companheiros faltosos, o PT já fez. Mas não é o suficiente. Não para os sinceros petistas, os confiantes lulistas. Não para a militância que se destaca por acreditar no futuro de um Brasil de todos e para todos, e não por procura de soluções de problemas individuais ou familiares, ou para satisfação de interesses especulativos.

A esses não deve bastar à reeleição de Lula, nem a certeza de que o PT jamais reincidirá nos erros que felizmente vieram ao conhecimento público graças à inabilidade, a falta de traquejo e experiência de um PSDB e um PFL. No rescaldo, até ficaram com a vantagem de o eleitor poder perceber por si mesmo que não é só o Lula que não pode errar, como afirmou por si em sua posse. O eleitor perceberá que enquanto nos demais partidos todos erram sem dar em nada, no PT quem errar um milímetro caí nas garras dos falsos moralistas, loucos para arrumar um pé que justifique uma CPI, uma acusação, um palanque qualquer. Lógico! Quem não tem serviço para mostrar, só mesmo aumentando o erro dos outros. No Brasil, tática bastante comum entre operários da construção civil e políticos de oposição.

Para filiados, ou não, que sempre foram petistas e lulistas por acreditar neste país, importante não será apenas um bom governo na presidência, mas também uma boa oposição, uma verdadeira oposição para vigiar, alertar, apontar, indicar sugestões e alternativas. E criticar, inclusive. Mas crítica verdadeira, baseada em critérios consistentes, assumidos. Afinal, a palavra crítica quer dizer exatamente isso: comentário a partir de um critério, não mero oportunismo, frases de efeito a serem exploradas por uma imprensa nascida da corrupção do regime ditatorial e mantida para iludir a classe média quanto aos reais interesses dos grupos que a mantêm.

Enquanto a opinião pública brasileira for deformada por esses prepotentes e inescrupulosos pretensos profissionais de jornalismo, não será suficiente um Lula na presidência. De que adianta uma gestão com tão significativos avanços, se a manipulação dos erros de alguns é transformada em inconseqüente e sistemática campanha de desconstrução de tudo o que foi conquistado? Menos ainda quando essa imprensa pode criar drásticos fenômenos políticos como já o fez com Collor de Melo.

O Brasil precisa urgente de uma verdadeira oposição, pois a continuar a que aí está corremos dois sérios riscos. Aparentemente o maior é o de voltarmos aos desmandos e a incompetência de um PSDB ou, retrocesso ainda maior, à truculência e anacronismo de um PFL. Mas também nos seria muito prejudicial se, pelo desgaste do desmascaramento dos reais interesses contrários ao do eleitorado, a exemplo do que ocorreu na Venezuela, a oposição brasileira se inviabilizasse.

Apesar de seu importante papel estratégico na economia mundial como destacado fornecedor de petróleo, a representatividade daquele país restringe-se por suas fronteiras com a Guiana e a Colômbia, o mar do Caribe e a Amazônia brasileira; exatamente onde o nosso se distingue por motivos inversos e ímpares no continente, outorgando-nos uma responsabilidade muito maior como instituição democrática.

Por outro lado, é impossível a manutenção de um estado democrático onde um conhecido contratador de pistoleiros até para execução de seus próprios familiares, irresponsavelmente acusa o partido governista da morte de um de seus principais integrantes. Morte investigada por duas organizações policiais que a apontaram provocada por crime comum, ainda quando o PT era oposição. Inviável a democracia, onde um parlamentar acusado de proxenetismo agrava sua desqualificação ameaçando o Presidente da República de tapas. Não há democracia que sobreviva a um partido que além de possuir um líder escravagista, como o impune Inocêncio de Oliveira, é presidido por alguém que pública e ameaçadoramente se auto declara racista

Ridículo um ex-presidente que tem as privatizações realizadas em sua gestão questionadas na justiça, anunciar que "Chega de ladrão!". Quê de democracia se espera daí?

Oxalá a oposição à esquerda se recicle e perceba que não é mais tempo de populismos ao estilo dos caudilhos das décadas de 30 e 40 do século passado. Queira o bom senso que essa oposição perceba que os radicalismos revolucionários bolcheviques de 1917/19, apesar de oferecerem boa análise de evolução histórica dos movimentos de massas, seriam inconseqüências políticas se possíveis de serem repetidas agora.

Que alguns assumam um mínimo de decência em relação aos ideais que já professaram, e outros consigam resolver suas descompensações emocionais e existenciais, ou arrumem atividades onde melhor manifestar autocomiserações pelos melhores anos de suas vidas. Sempre alguma falta fazem os cantores e atores, além do que, trocando o plenário por espaços mais condizentes ao talento que despontam ao vituperar verborréias a beira da sandice, menos se exporiam ao ridículo e mais dignamente contribuiriam com a própria auto-estima.

Ainda que não seja religioso, se necessário rezar, rezo pela salvação da nossa oposição e peço a todos que, como brasileiros, independente de serem petistas ou não, façam algo por ela, pois precisamos de uma oposição de verdade e conseqüente. Não dá mais para se expor uma população de aproximados 200 milhões de almas à possibilidade de governo de uma gente tão mal intencionada e incompetente, ou débil e inconsistente.

Precisamos urgente de erradicar, não por 30 anos, mas definitivamente, essa atual oposição. Para que cresça e se desenvolva uma oposição capaz, firme, de posições democraticamente definidas.

Para que se viabilize uma radicalização democrática, não tem outro jeito: só mesmo acabando com essa oposiçãozinha de merda.



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