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La insignia
25 de fevereiro de 2006


Seu último carnaval?


Fernando Soares Campos
La Insignia. Brasil, fevereiro de 2006.


Se você pensa que já viu todo tipo de covardia contra o governo Lula, engana-se. O pior está para acontecer. A primeira fase do golpe, a do bombardeio midiático baseado em acusações irresponsáveis, somente será concluída com os relatórios das CPMIs. Os estragos provocados nesta etapa serão avaliados quando da apuração dos votos do primeiro turno das eleições, em outubro. Se os candidatos petistas e dos partidos da base governista, contrariando o esperando pela Oposição, conquistarem um expressivo número de vagas nas assembléias legislativas, no Congresso Nacional e nos executivos estaduais, e a reeleição do presidente Lula apresentar-se tão provável, no segundo turno, o quanto se revelou em outubro de 2002, aí o caldo vai engrossar. Portanto, samba no pé, companheiro, divirta-se, pule o frevo, dance axé; solte as frangas nos blocos, nas passarelas do samba, atrás do trio elétrico. Cante, pule, dance. Beba e coma tantas quanto puder. Acene para as câmeras de tevê, sorria, beije muito a namorada, aproveite a folia ao máximo, afinal, este poderá ser o seu último carnaval.

O Brasil detém o título de vice-campeão do atual torneio mundial de morte por agressão. A taça Caveira de Ouro, por enquanto, está em poder dos colombianos, que enfrentam uma guerra civil há mais de cinco décadas. Aqui no nosso país, o maior número de vítimas ocorre entre jovens na faixa etária de 15 a 25 anos. Em determinados momentos, a mídia enfoca a violência nas grandes cidades brasileiras com tanto empenho que provoca um aumento nas vendas de certos produtos: carros blindados, unidades habitacionais em condomínios "de segurança máxima", sistemas de vigilância eletrônica, coletes a prova de bala, armas de fogo, grades, portas e portões especiais. O clima de guerra nos noticiários de tevê chega a provocar prejuízo em alguns empreendimentos destinados ao lazer da população. Também altera a rotina e o humor das pessoas. No entanto, quando as televisões deixam de lado o enfoque da violência, principalmente a da guerra do tráfico no Rio de Janeiro, a impressão que se tem é a de que a cidade está reconquistando a paz de outras épocas.

Durante a apresentação do show dos Rolling Stones semana passada aqui no Rio, os repórteres informavam insistentemente que o evento transcorria na mais perfeita ordem e sob a Paz do Senhor, "sem o registro de ocorrências graves". Havia um propósito de tranqüilizar as famílias que, em casa, temiam pelos que se aventuraram a assistir ao show nas areias de Copacabana. Mesmo no dia seguinte, os jornais trataram de abordar a questão da violência no evento, amenizando a gravidade das ocorrências registradas. Os 600 atendimentos do Corpo de Bombeiros não foram tratados como casos de violência, pois, segundo a Folha de São Paulo, "90% dos casos eram de coma alcoólico", e " A Polícia Militar, por sua vez, registrou apenas 200 ocorrências durante o show dos Rolling Stones. Segundo a PM, nenhum dos casos foi considerado grave. As ocorrências de menor gravidade foram registradas no próprio local, que contava com um juizado especial (Jecrim). Não foi divulgado o perfil das ocorrências. Até a meia-noite, a Polícia Civil havia feito 50 ocorrências, sendo 33 por furto e seis por uso ou porte de drogas. Não foi informado se houve prisões ou detenções".

Dá pra notar que há o propósito de amenizar a gravidade dos fatos, pulverizando a notícia: "O levantamento dos bombeiros inclui ainda 28 afogamentos, um parto, um atropelamento e três pessoas esfaqueadas. A Polícia Militar, por sua vez, registrou apenas um caso de esfaqueamento".

Aposto que a violência nossa de cada carnaval, este ano, também vai ser tratada desta forma: "O Rio de Janeiro é só paz e amor!", "Aqui em Salvador está tudo na Paz do Senhor", "Recife e Olinda vivem o carnaval mais tranqüilo de todos os tempos!", "De norte a sul do país, o carnaval mais feliz!". E, na Quarta-Feira de Cinzas, com os necrotérios abarrotados de cadáveres e as cadeias superlotadas, a imprensa vai abordar a violência deste carnaval da mesma forma como tratou o show do Rolling Stones: "Somente algumas centenas de assassinatos", "Apenas alguns milhares de acidentes automobilísticos", "Quem exagerou na cafungada de pó entrou em coma, mas já passa bem". Por aí.

Acha que digressionei? Que os elementos aí são incompatíveis? Pois saiba que, neste momento, formam a mistura perfeita: CPMIs, eleições, golpe, show de rock, carnaval e a substância aglutinante: os noticiários da imprensa.


Quando outubro vier

(Vou copiar lá em cima e colar aqui embaixo.)

Repeteco I

"Se os candidatos petistas e dos partidos da base governista, contrariando o esperando pela oposição, conquistarem um expressivo número de vagas nas assembléias legislativas, no Congresso Nacional e nos executivos estaduais, e a reeleição do presidente Lula apresentar-se tão provável, no segundo turno, o quanto se revelou em outubro de 2002, aí o caldo vai engrossar."

Imagine Lula e Serra (ou Alckmin) disputando o segundo turno da eleição presidencial. Isso quer dizer que Antony Garotinho estaria fora da disputa eleitoral. E, de acordo com as pesquisas e a opinião geral nos bares e esquinas do Rio, em 2006 a população do Estado do Rio de Janeiro vai estar livre da dupla macabra Rosinha-Garotinho. A não ser que o marido da governadora resolva gastar todo o orçamento de 2005 para elegê-la senadora. Mesmo assim, quando outubro vier, o comportamento da imprensa, hoje tratando o Rio de Janeiro como um oásis de paz, será modificado. O caveirão, o carro blindado da Polícia, a viatura sinistra que se tornou o terror das favelas cariocas, vai entrar em ação. A violência do outro lado do mundo praticamente sairá das pautas dos noticiários, abrindo-se espaço para as batalhas da guerra do tráfico carioca. Os choques das facções farão centenas de vítimas, as balas "perdidas" encontrarão seus destinos, e o inferno se abaterá sobre a Cidade Maravilhosa, tendo como testemunha o Cristo de braços abertos, lá no alto do Corcovado. Os televisores sangrarão, os jornais impressos se encharcarão de sangue; policiais, bandidos e vítimas inocentes serão enterradas em covas rasas, dessas que os tratores passam as lâminas, recolhem os cadáveres e despejam no lixão de Gramacho. A governadora Rosinha Matheus vai entregar ao seu sucessor os restos do Estado do Rio de Janeiro. Tudo será debitado na conta do governo federal: "Que não liberou verbas orçamentárias para as áreas de segurança dos estados". Quem escapar ouvirá.

Repeteco II

"Portanto, samba no pé, companheiro, divirta-se, pule o frevo, dance axé; solte as frangas nos blocos, nas passarelas do samba, atrás do trio elétrico. Cante, pule, dance. Beba e coma tantas quanto puder. Acene para as câmeras de tevê, sorria, beije muito a namorada, aproveite a folia ao máximo, afinal, este poderá ser o seu último carnaval."



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