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La insignia
10 de dezembro de 2006


Brasil

O arcebispo não dá entrevista


Urariano Mota
La Insignia. Brasil, dezembro de 2006.


Os manuais de qualquer redação ensinam que não se deve publicar uma só versão, que é sempre salutar ouvir o outro lado. Chamam a isto imparcialidade, quando deveriam mais propriamente dar o nome de justiça. Por isto bem que procuramos cumprir com a imparcialidade de um lado e com a justiça de outro, quando tentamos ouvir Dom José Cardoso Sobrinho, Arcebispo de Olinda e Recife. A razão de tão alta procura se deu pela razão que segue.

A Igreja de Santo Antonio, no subúrbio de Água Fria, um dos mais claros céus do Recife, está de luto, com panos violetas. Protestos escritos em anúncios e tecidos tomam conta dos muros e das ruas do subúrbio. Gritam, em letras grandes: "Nossa luta é pelo direito de defesa de um padre cidadão". E por que semelhante movimento? Com a palavra, o padre João Carlos Santana da Costa:

- Eu compareci diante do arcebispo em 6 de novembro deste ano, às 9 horas da manhã. Lá, ele me mostrou um texto, que continha algumas denúncias completamente sem sentido, que o bispo havia recebido por e-mail. Mas ele me escondeu o remetente. Disse que não me diria isto de forma alguma. Então, depois de eu insistir tanto, para saber quem era que estava me acusando, para eu poder me defender, ele terminou dizendo que não me interessava saber se era verdade ou mentira, interessava saber é que ele me queria fora daqui. O arcebispo cerceou completamente o meu direito de defesa.... E me deu a ordem de, em oito dias, desaparecer da paróquia de Água Fria. Entregar minha paróquia, me despedir dos amigos, ir embora de Pernambuco.

O padre João Calos continua à frente da paróquia de Água Fria por força de um recurso à Santa Sé. Como vêem, coisa grave, do tempo dos feudos acontece hoje em Pernambuco. E por isso, em nome da imparcialidade, e até da pesquisa, tentamos ouvir Dom José Cardoso Sobrinho. Ligamos para a Arquidiocese de Olinda e Recife. O diálogo estabelecido foi este:

- Gostaria de falar com a assessoria de imprensa da Arquidiocese.
- Para o quê?
- Para uma entrevista com Dom José Cardoso.
- Ah, vou passá-lo para a secretária. ...
Atende a senhora secretária.
- Sobre o que o senhor pretende falar com o Arcebispo?
- Sobre a paróquia de Água Fria.
- Sobre isto o arcebispo não dá entrevistas.
- Então eu gostaria que ele me dissesse alguma coisa sobre a sua pastoral na Arquidiocese. É possível?
- Olha, eu ....
- Escute. Podemos assinar um compromisso. Nenhuma pergunta sobre o caso do padre João Carlos. É possível?

Tentar é humano. Ainda que estejamos lidando com um zorro formado em Roma pelos livros e práticas da Velha Igreja, tentar é humano. E todo esforço é divino. A este recurso último, assim responde a secretária:

- Ligue depois das três da tarde. Eu vou perguntar a Dom José Cardoso.
Três e meia da tarde.
- É possível a palavra do arcebispo?
- O arcebispo está sem tempo.
- Mas não precisa ser hoje. Solicite a ele outro dia, outra hora, quando ele quiser.
- O arcebispo não dá entrevista.

Principalmente ao senhor, ela poderia ter adicionado, e com esse gênero de astúcia, com a sombra desse assunto, o arcebispo não dá entrevista, com absoluta certeza. E encerrou a ligação, antes de outros mas, poréns, peros e contudos.

A secretária poderia ter respondido que Dom José Cardoso estava resfriado. Então poderíamos dizer que Dom José Cardoso com catarro é como um Picasso sem cores, ou como um Ferrari sem gasolina, só que pior. Porque o catarro comum roubaria a Dom José Cardoso essa jóia que não se pode pôr no seguro, a sua voz. E com isto ela santificaria este roubo que faço das palavras de Gay Talese em Frank Sinatra está resfriado. Mas não, a secretária preferiu dizer que o arcebispo não dá entrevista. E nem deseja a mínima aproximação, a menor vizinhança da sua augusta pessoa na Arquidiocese, quando poderíamos vê-lo em oração, em murmúrios, em risadas e pecados veniais, e se tivéssemos sorte, quem sabe, em terríveis pecados mortais. Não, Dom José, nós não poderíamos vê-lo em escabrosos pecados da cama e do sexo. Não. Destas coisas imaginamo-lo casto. Poderíamos vê-lo em algo mais grave que todas as perversões da cama. Algo muito feio e imoral, Dom José Cardoso. Algo como condenar um homem sem lhe conceder a graça de qualquer defesa. Desapareça da sua paróquia, estas suas palavras a um padre humilde de um subúrbio recifense bem que mereciam o inferno de um retrato.

E algumas recordações também, como bem noticiou o Jornal Igreja Nova, de um grupo de leigos católicos do Recife:

"Dom José Cardoso, o sucessor de Dom Hélder na Arquidiocese de Olinda e Recife, será lembrado como um senhor bispo, ou um bispo senhor, no sentido do procurador romano, ou como lídimo representante de uma hierarquia gendarme , que executa, com o código de direito canônico na mão, as determinações do poder central. Como alguém que veio com a triste e árdua tarefa de desmontar e desfazer até nos alicerces o modelo de Igreja preconizado pelo Concílio Vaticano II e ensaiado por Dom Hélder". (Jornal Igreja Nova, http://www.igrejanova.jor.br/edabr00.htm)

Ou no mesmo jornal, nesta magnífica e santa passagem:

"No dia 6 de agosto de 2004, durante a concelebração eucarística de encerramento das festas do padroeiro de Olinda, São Salvador do Mundo, Dom Cardoso enviou recado à Prefeita de Olinda, Luciana: que ela se retirasse da fila da comunhão (que era a que ele distribuía), porque ela pertencia a um partido político ateu (Partido Comunista do Brasil). Ao mesmo tempo, numa atitude covarde, trocou sua fila com a de Dom Fernando Saburido (bispo Auxiliar)".

Talvez tenha sido melhor ouvir que o arcebispo não dá entrevista. Ninguém mesmo poderia crer que um homem santo e inflexível tivesse a fraqueza de um resfriado. Ninguém poderia crer que o Arcebispo de Olinda e Recife houvesse perdido a voz em razão de um catarro. Ele a perde em razão de coisas menos imundas. Como condenar, perseguir e expulsar padres sem defesa. Um gênero de resfriado onde não há remédio.



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