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10 de dezembro de 2006 |
Luís Nassif
No final dos anos 40 e a partir dos anos 50 houve enorme revoada de músicos brasileiros em direção aos Estados Unidos. A música brasileira havia sido descoberta pela missão Rockefeller, que abriria as portas para Carmen Miranda, Bando da Lua e Ary Barroso.
No início dos anos 50 foi a vez dos violonistas, puxados por Laurindo de Almeida e Luiz Bonfá. Nos anos 50 e 60 seguiram viagem monstros da música instrumental, como Moacir Santos, o gênio precoce de Eumir Deodato, o brilhante Sérgio Mendes, o violão sofisticadíssimo de Oscar Castro Neves, o violão mais clássico de Barbosa Lima, o ritmo original de Airto Moreira, as vozes de Astrud e João Gilberto. Em geral, com maior ou menor intensidade chegaram ao Brasil os ecos do sucesso alcançado por esses pioneiros. Dois (ou seriam três) deles, no entanto, mereceram pouco reconhecimento por aqui. Um, o duo Índios Tabajara, dois cearenses violonistas que se apresentavam vestidos de índios, mudaram-se para o México, especializaram em gravar standards, especialmente boleros, e gozaram de sucesso mundial nos anos 60 e 70. Dia desses, consegui baixar no meu KaZaA uma das valsas venezuelanas de Antonio Lauro, com uma interpretação portentosa da dupla. O outro é Bola Sete, Djalma Andrade, nascido a 12 de julho de 1923 no Rio de Janeiro e falecido em 13 de fevereiro de 1987. Quando o grande guitarrista mexicano Santana recebeu o seu "Grammy", e retornou ao centro do sucesso mundial, passou despercebida uma declaração dele, de que sua grande influência fora Bola Sete. De minha parte, tinha ouvido falar muito dele, como integrante do "cast" de violonistas da rádio Nacional, ao lado de Garoto, Manuel da Conceição, o Mão de Vaca, José Menezes e de um jovem aprendiz, de nome Baden Powell. Nos anos 70 foi lançado um LP histórico, uma jóia rara que guardo em cofre forte, com João Pernambuco, o pai da escola de violão brasileiro, solando e sendo acompanhado por Bola Sete, fazendo uma "baixaria" inacreditável. Quem me chamou a atenção para ele, muitos anos depois, foi meu amigo Patrick Ledoux, um executivo do Banco Francês e Brasileiro que se mudara para o Brasil atraído exclusivamente pela música brasileira. Patrick tinha todos os discos de Bola Sete lançados nos Estados Unidos. Aí, recebido o sinal de alerta, você apura o ouvido que nem índio apache deitado na bitola do trem, e fica esperando os sinais da chegada do som. E como vieram sons de Bola Sete. Ao lado de antecessores, como o argentino Oscar Aleman, e de sucessores, como Paquito de Rivera, Bola Sete foi um dos criadores do jazz latino, a escola que logrou casar a sofisticação harmônica do jazz com o balanço e o estilo de improvisação do choro e dos ritmos do Caribe. Bola Sete começou a tocar nas rodas de músicos na Praça Tiradentes. Aos 17 anos, passou uma temporada em Marília (SP) com o conjunto de Henricão -o extraordinário compositor de "Casinha da Marambaia". Sua carreira, de fato, começou em 1945, quando venceu um concurso de violão na rádio Transmissora (futura rádio Globo). Por três anos apresentou-se no programa "Trem da Alegria", no Teatro João Caetano, com Lamartine Babo, Iara Sales e Héber de Boscoli. No final dos anos 40, adquiriu vida própria. Montou o "Bola Sete e seu Conjunto", que tinha como crooner Doloren Duran. Apresentavam-se nas históricas boates Drink e Vogue -esta, a mais famosa casa noturna da época, consumida pouco depois por um incêndio. Em 1954 formou uma orquestra que correu América Latina e Espanha. Sua mudança para os Estados Unidos foi em 1959. Até 1962 apresentou-se para a rede de hotéis Sheareton. A partir de 1960, Bolsa Sete começou a despejar choro nos gringos. Gravou o LP "Bola Sete", com "Um a Zero" (Pixinguinha e Benedito Lacerda) e "Império do samba" (Zé da Zilda e Zilda do Zé). A partir daí, ninguém mais segurou Bola Sete. Tocou no conjunto de Dizzie Gillespie, esteve na noite da bossa nova, no Carnegie Hall, montou seu trio com os impecáveis Tião Neto no baixo, e Chico Batera na percussão. Deixou dez LPs gravados nos Estados Unidos, o mais procurado dos quais, com Vince Guaraldi. Morreu como um dos ícones da música instrumental das duas maiores potências musicais do século. |
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