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23 de junho de 2005 |
O lacerdismo ilustrado
Adão Villaverde
Os recentes episódios da política nacional, como a eleição de Severino, as denúncias sobre os Correios, as supostas mensalidades pagas a deputados e a representação teatral de Roberto Jefferson na Comissão de Ética da Câmara precisam ser muito bem compreendidos pela sociedade. A experiência demonstrou como muitas vezes CPIs, mais do que mecanismos de investigação parlamentar, são formas objetivas de disputa política, ataques a governos e antecipação de agendas eleitorais.
As declarações de FHC de que "o governo era um peru bêbado", deixam claro o ambiente que os tucanos querem criar. Não é apenas uma expressão inadequada para um ilustrado ex-presidente, nem só um gesto emitido do alto do seu pedestal, aliás postura característica sua quando exercia o comando do país, mas um ato grosseiro e explícito de ataque ao nosso governo. Talvez aja assim, de um lado, pelas frustrações de seus dois mandatos, e de outro, por estar diante do governo que mais combateu a corrupção nas últimas décadas. Nunca se fez tanto nesta área em tão pouco tempo, ao contrário do seu período, em que só engavetou denúncias. O tucanato e seu líder deixam claro seu objetivo: insuflar uma crise institucional e inviabilizar o governo. Esta postura de descompromisso com as instituições não é nova na política nacional. De triste memória para todos, foi o Lacerdismo. Eminente líder da velha UDN, Carlos Lacerda pregava que Getúlio Vargas não deveria ser candidato, e se fosse, deveria ser derrotado, e se vitorioso, não deveria assumir, e se assumisse deveria ser derrubado. Esta lógica ainda levou-o a apoiar duas tentativas de golpe contra Juscelino Kubitschek e a ditadura em 64. Tal qual o udenismo, com nova roupagem, a política brasileira tem hoje uma espécie de Lacerdismo Ilustrado, que busca levar até as últimas conseqüências a histeria denuncista, numa absoluta irracionalidade política. Aposta talvez no "quanto pior, pior" com um velho e inaceitável método de disputa política, que macula a imagem do adversário, ao atribuir a ele escândalos alheios para que fique se explicando. A democracia não pode tolerar a lógica de que os fins justificam os meios. A tragédia de 64, com o Lacerdismo como linha auxiliar, não deve ser esquecida. Esperamos que isso não se reproduza agora, quem sabe, como uma grande farsa, com o Lacerdismo Ilustrado pegando carona para voltar ao poder e revelar sua verdadeira face e seus compromissos. (*) Adão Villaverde é deputado estadual, líder do governo Lula na Assembléia Legislativa do RS. |
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