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La insignia
10 de julho de 2005


Leonora Amar, atriz e primeira dama


Luís Nassif
La Insignia. Brasil, julho de 2005.


Com a Internet, a pesquisa de música virou um emaranhado de fios. Puxa-se um, vai se desenrolando, chega-se em outro.

O meu novelo deste sábado começou em Silvinha Mello, cantora dos anos 30 e 40. Recentemente encontrei Ricardo Cravo Albin, em um evento no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. Mencionei Silvinha Mello. Disse-lhe que não encontrara nem em seu dicionário, nem na Internet. Um dos maiores especialistas da música brasileira, Ricardo admitiu que a falha era grave e ficou de incluí-la em breve em seu dicionário.

Eu tinha sabido dela alguns meses antes, em meus passeios pela praça Buenos Aires, quando o trabalho me libera algumas manhãs para andar, ouvir música e terminar com um cafezinho, um suco de uva e os velhos fregueses do Café Colón. Lá, o meu amigo médico, 82 anos de plena lucidez, me recorda das musas de seu tempo. Falou-me de seu sucesso no exterior. Nem sabia se estava viva ou não, mas se recordava que ela tinha se mudado para a França.

Em uma das edições do jornal da Collectors, fico sabendo que foi das primeiras cantoras a fazer sucesso nos Estados Unidos, em temporadas no Blue Angel, de Nova York, cantando sucessos de Ari Barroso.

Silvinha pegou rabeira em Carmen Miranda. Filha de pernambucanos, nasceu em Vitória (ES) em 1914. Mudou-se para o Rio com 9 anos. Aos 18 anos começou a cantar nos programas de César Ladeira na rádio Mayrink Veiga, junto com Francisco Alves, Carmen Miranda e Silvio Caldas.

Gravou seu primeiro disco em 1931, interpretando duas músicas de Heckel Tavares, “Chove Chuva” e “O Pequeno Vendedor de Amendoim”. No seu repertório havia basicamente José Maria de Abreu, Sivan Castelo Branco, mas fundamentalmente Joubert de Carvalho –de quem gravou, entre outras, “A Carícia de Tuas Mãos”, “Teu Retrato”.

No jornal confirma a informação de meu amigo, de que Silvinha casou com um diplomata francês e se mudou para Paris, onde teria falecido em 1978 –informação não confirmada.

Aliás, como a pesquisa musical brasileira, hoje em dia, se resume esse besteirol da “entoação”, muito tema fica solto no ar, à espera de um historiador. Um dos temas poderia ser das cantoras brasileiras de segunda linha, que seguiram para os EUA no rastro do sucesso de Carmen Miranda.

No ano passado publiquei uma crônica sobre Leonora Amar, que fez temporada nos cassinos de Poços no início dos anos 40, depois se mudou para os Estados Unidos, tornou-se cantora da rádio CBS, fez shows em Nova York e estrelou um filme com Errol Flyn, “O Capitão Escarlate”. Chegou a ser apontada por algum crítico como das mais belas atrizes daqueles anos. Depois, sumiu na poeira da história.

E aí, encontro outro fio do novelo. Fui informado de sua existência pelo Hugo Pontes, historiador de Poços, que vive descobrindo nos jornais locais jóias sobre a época dos cassinos. Na época em que escrevi a coluna, consegui notícias de Leonora Amar apenas em sites de cinema dos EUA.

Na segunda rodada de pesquisas, aparecem mais informações, embora um tanto desencontradas. Nascida em 1926, começou carreira nas rádios Mayrink Veiga, Tupi e Nacional, do Rio. Em 1943, com apenas 17 anos, foi para os Estados Unidos. Morou em Los Angeles, dividindo apartamento com Linda Darnell. Em seguida, mudou-se para o México. Descoberta pelo produtor Raul de Anda, estrelou o filme “Desquite” e, em seguida, “Cuide de seu Marido”. Tornou-se celebridade no México, conheceu o futuro presidente da República Miguel Aleman, com quem se casou e teve dois filhos.

Já era das mulheres mais ricas do México, quando decidiu voltar a Los Angeles, produzindo e atuando em três filmes, através de sua própria companhia, a Produções Sol. No Brasil, estrelou um único filme, “Veneno”, ao lado de Anselmo Duarte.

Depois, radicou-se definitivamente no Rio de Janeiro, onde se tornou incorporadora imobiliária. Mora em Copacabana. Neste início de noite de sábado consegui seu telefone. No telefone atendeu uma senhora, que julgo ser ela própria, me informando que dona Leonora está viajando. Mas que irá passar meu telefone para ela que, se tiver interesse, entra em contato.

Ficarei aguardando com ansiedade.



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