No dia 19 de setembro de 2000, Paulo Freire foi homenageado na cidade de Recife, Pernambuco, por ocasião da data do aniversário do seu natalício. Como membro do Centro Paulo Freire de Estudos e Pesquisas, o sociólogo, poeta e escritor Alder Júlio Ferreira Calado, pronunciou algumas palavras que a Faculdade de Filosofia de Caruaru-FAFICA, publicou sob o apropriado título de Tecelão da Utopia: uma leitura transdisciplinar de Paulo Freire (Caruaru: Edições FAFICA, 2000). Existe no nordeste brasileiro um ritmo musical, o "martelo agalopado", no qual as rimas que se oferecem à leitora e ao leitor a seguir -e que encerram a reflexão do professor Alder Júlio-foram escritas. O autor dos versos é professor no Curso do Magistério do MST-Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, colaborador em programas de pós-graduação em sociologia e educação, e assessora vários movimentos populares e pastoriais sociais.
Paulo vive nas lutas do seu Povo
Por trabalho, por terra, por justiça
Belos sonhos eu ele nos atiça
De forjar, desde agora, um mundo novo
Irrompendo, qual pinto sai do ovo
Nos instiga a mexer com a fantasia
Que o Espírito de Luz nos irradia
Das infindas galáxias surge emerso
Paulo Freire vagueia no Universo
Atiçando as centelhas da Utopia.
Recordando seus textos principais
É possível se ter u´a foto sua
De erudito, profeta, homem da rua
De filósofo, de sábio perspicaz
A lutar por justiça e pela paz
Pedagogo da Fé, da rebeldia
Contra quem do oprimido tripudia
Pretendendo mantê-lo bem disperso
Paulo Freire vagueia no Universo
Atiçando as centelhas da Utopia.
Educar praticando a Liberdade
É lição número um a se aprender
Avivando a fagulha em cada ser
Contagiar mais pessoas sim, quem há-de?
Trabalhando no campo ou na cidade
O Oprimido tem sua Pedagogia
Como classe, é aí que se inicia
Um caminho instigante e controverso
Paulo Freire vagueia no Universo
Atiçando as centelhas da Utopia.
Mais que ler as letrinhas do alfabeto
Educar é sinônimo de mudança
Que um olhar penetrante sempre alcança
Entre as nuvens de um tempo tão repleto
De falácia, arrogância e desafetos
Algo novo que emerge em rebeldia
Só mudando o sistema é que se cria
Desse estado de coisas o reverso
Paulo Freire vagueia no Universo
Atiçando as centelhas da Utopia.
Se importante é o ato de se ler
Também é o trabalho de Extensão
Quando a troca se dá, não é em vão.
Aprendendo e ensinando com prazer
Comunica a todos o saber
Todos dão e recebem, com alegria
Ganham todos, e tudo se avalia
Se respeitam saberes mais diversos
Paulo Freire vagueia no Universo
Atiçando as centelhas da Utopia.
Ensinou ser vida na escola
Expressão do viver de nossa gente
Um espaço a pensar o que se sente
Que as fronteiras da sala extrapola
Vai beber da herança quilombola
O legado indígena concilia
Sobrevive com arte a travessia
Do invasor põe em prática o lado inverso
Paulo Freire vagueia no Universo
Atiçando as centelhas da Utopia.
Uma ação cultural é necessária
Liberdade é bandeira essencial
A um projeto que enfrente o Capital
Em batalha travada em qualquer área
Até mesmo no camp´ Reforma Agrária
Quando encara, resiste ou negocia
Do peão fala alto a ousadia
Quando enfrenta o gigante mais perverso
Paulo Freire vagueia no Universo
Atiçando as centelhas da Utopia.
Pés de jambo, jaqueiras, goiabeiras
Nos quintais de recife existem tantos
Testemunhas de sonhos e de encantos
Pois as árvores têm feições fagueiras
Muita vez Paulo à sombra das mangueiras
Introspecto em seu mundo, refletia
Que, somente se inspira rebeldia,
O passado não é tempo adverso
Paulo Freire vagueia no Universo
Atiçando as centelhas da Utopia.
Formação na esperança, passo urgente
Cidadãos bem autônomos educar
Na cidade, na roça, desde o lar
Quem e cala ante o mal, foge, consente
Venha, então, engrossar essa corrente
Contrapondo o Trabalho à sangria
Da pilhagem burguesa que se amplia
Você acha que brinco ou desconverso?
Paulo Freire vagueia no Universo
Atiçando as centelhas da Utopia.