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19 de agosto de 2005 |
Meus combativos amigos
Fernando Soares Campos
Durante todo este período em que a crise política brasileira se arrasta, arrastando consigo a esperança, li e ouvi muito desespero e inconformismo, acusações e até jocosidades. Alguns me abalaram, mexeram com meu ego, meus brios, minha paciência, enfim, encheram meu saco. No entanto, quando ouvia ou lia opiniões provenientes de setores reacionários, declarações de históricos inimigos do PT, neste caso, evidentemente nada me surpreendia. Eu as respondi com os argumentos que estão ao meu alcance. São argumentos que, de certa forma, os formamos com base na prática política verificada através da nossa história republicana. Também a extrema esquerda não me confundiu com as suas considerações, mesmo porque confusos são os seus argumentos, que, em geral, parecem ter chegado ao novo milênio sem terem passado pelo século XX.
Na verdade, para mim as mais incômodas farpas foram os aparentes mea-culpa. Abertas as primeiras malas e arriada a primeira cueca, logo apareceram alguns supostos militantes petistas confessando-se arrependidos de terem "outorgado" ao PT o direito de decidir e até de pensar por eles. Sentiam-se culpados de terem votado no PT nos últimos 500 anos. Muitos se diziam petistas desde criancinha, ou petistas de carteirinha. Um noticiário de televisão chegou a mostrar um deles (?) rasgando o cartão de filiação partidária. Mas é com imenso prazer que observo alguns dos meus combativos amigos, os quais já apresentavam sinais de esmorecimento, crendo que perderam a luta contra o desmonte do PT, retomando fôlego e retornando às trincheiras. Miguel do Rosário, brilhante articulista, que me forneceu muito material para me manter na posição de defesa de um governo democrático e transparente, sob o qual estamos vivendo, chegou a escrever um artigo intitulado "Perdemos", onde parecia entregar as armas e afastar-se da militância. Felizmente, diante dos novos fatos que revelam a disposição dos brasileiros em manter a governabilidade e a Democracia brasileiras, meu amigo retomou os ânimos e já está a postos contra os golpistas (ontem, milhares de pessoas aplaudiam Lula, e, dentre as dezenas de faixas e cartazes que lhe transmitiam recados, destacava-se uma dizendo: "Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo"). A mídia cabocla vem se empenhando em pintar o presidente Lula com as cores de Collor de Mello. Os empedernidos inimigos do atual governo, políticos da safra FHC e ACM, propõem o impedimento de Lula, sob as mais esdrúxulas acusações. Tentam inclusive cancelar o registro do PT, conforme ação impetrada pelo senador César Borges (PFL-BA) no Tribunal Superior Eleitoral. Isso ocorre bem antes das conclusões das CPIs que apuram os depoimentos de Roberto Jefferson, Valdemar Costa Neto e "Toninho da Barcelona" (apelido de Antonio Oliveira Claramunt, condenado a 25 anos de cadeia por evasão de divisas), os quais misturam denúncias baseadas no óbvio (o caixa 2 como prática eleitoral consolidada há anos) com irresponsáveis declarações do tipo "acuso mas não provo", mas que são tratadas pela imprensa como incontestáveis verdades. O mais curioso nisso tudo é que se aceita a palavra de criminosos exatamente por serem criminosos natos, experts em roubalheira. Tempos se foram em que um condenado pela Justiça era ouvido com reservas. Hoje, quando Toninho da Barcelona declarou que um deputado petista o havia procurado em 1989 para tratar do envio de dólares para o exterior, o Globo Online (14/08/2005), em tempo real, mandou a chamada: "Doleiro diz que PT envia dinheiro para o exterior desde 1989", a declaração do condenado "transformou" o partido numa das maiores quadrilhas de desvio de divisas do país, alguma coisa equivalente ao caso do Banestado. Mas a prudência não é virtude exclusiva de pessoas reconhecidamente sérias. Dentre os que querem a queda de Lula também existem os cautelosos. Contam que nesta semana o senador Tasso Jereissat (PSDB-CE) aconselhou o senador Artur Virgílio a maneirar sua posição em favor do impeachment do presidente, pois, segundo o cearense, "Lula não é Collor, nem o PT é o PRN" (descobriram a vacina anti-rábica). Em seguida, diante das câmeras de televisão, os golpistas desfilaram informando à população: "Pedir o impeachment não é uma decisão simplesmente jurídica, baseada em evidentes provas de corrupção, como as que já temos. Para torná-lo legítimo, faz-se necessário o clamor popular, as pessoas nas ruas, como no caso do Collor" (vários falaram nesses termos). Assim foi convocada a população a sair às ruas gritando "Fora Lula!", no próximo 7 de Setembro. Digo isso baseado nos inúmeros e-mails que tenho recebido fazendo-me esse convite: "Todos de preto, de luto contra a corrupção". Acredito que tudo isso corrobora a declaração de Miterrand, em entrevista à tevê, em 1994: "Um processo de corrupção num governo de esquerda tem conseqüências muito mais graves que em outro de direita, pois abala a confiança daqueles que, como professores, professoras e servidores públicos de base, sempre usaram a moral e a ética em suas aulas e conversas, e têm a esquerda como referência e padrão. As conseqüências, num caso desses, são avassaladoras". Assistindo, pela primeira vez em meu país, um processo de corrupção contra um governo de esquerda, descobri que tal processo também tem o objetivo de homogeneizar a classe política, fazendo a população crer que "todos são iguais", no pior sentido que se possa entender essa afirmação. Quando votei no Lula, nas quatro últimas eleições para a Presidência da República, almejei um Brasil mais soberano, com uma justiça social digna do nosso povo, com os trabalhadores percebendo salários condignos de suas necessidades básicas. Também com o meu voto, pretendi contribuir para fazer chegar ao cargo de supremo mandatário da Nação alguém que se dispusesse a por termo à bandalheira endêmica que se verifica em nossas instituições públicas há muitos anos, ou, pelo menos, refrear os abusos nesse âmbito. Sonhei com a reforma agrária, com escolas públicas de boa qualidade. Vi na figura de Lula e na combatividade histórica do PT um raio de esperança vislumbrando no horizonte político, esperança de concretizar meus anseios de construir um Brasil mais justo. Nos primeiros meses do governo Lula me posicionei como um dos muitos imediatistas que exigiam medidas radicais do governo, sem considerar as conseqüências que elas pudessem originar. Fiz coro com a equivocada opinião de pretensos analistas políticos que, ainda hoje, consideram a administração de Luiz Inácio Lula da Silva uma continuidade do seu antecessor Fernando Henrique Cardoso. No entanto o quadro que ora se apresenta como resultado dos dois anos e meio da gestão Lula não revela o continuísmo pregado pelos seus opositores. Senão vejamos essa exposição de "motivos" para defenestrar Lula do Planalto, a qual me foi enviada por Cláudio Campos, gerente de uma agência do Banco do Brasil, lá no Nordeste:
Onze motivos para defenestrar Lula!
1 - Criou em 2 anos e meio mais de 3 milhões e 135 mil novos empregos de carteira profissional assinada no país. (Entre 1994 a 2002, foram criados 737 mil.) Matilde Eugenia Schnitman, jornalista, professora em cursos de Comunicação - Jornalismo nas Faculdades Integradas Ipitanga / Unibahia, em Lauro de Freitas, e Produção Editorial na Faculdade Hélio Rocha, em Salvador -, colaboradora da revista eletrônica NOVAE, muito a propósito, nos pergunta: "Dizem por aí que o governo Lula está fazendo o mesmo que o de FCH, mas, se é assim, por que agora estamos andando para frente e antes andávamos para trás nos indicadores sociais e econômicos?" A despeito de tudo isso, leio o artigo "Nuestras deudas", do senador Cristovam Buarque, aqui em La Insignia, originalmente publicado no jornal espanhol El País, em 17/08/2005, onde ele declara: "Brasil es un país dividido, dueño de la mayor concentración de renta del mundo y de un modelo de apartaçao, o apartheid social brasileño. El Gobierno de Lula no ha presentado, en 30 meses, un programa para abolir la exclusión social y hacer de Brasil una nación integrada". Não me sinto suficientemente competente para discordar do respeitabilíssimo senador Cristovam Buarque, mas não posso deixar de evocar a sabedoria popular que, fundamentada nos registros bíblicos, está sempre a nos lembrar que "Para tudo há um tempo certo, para cada coisa há um momento debaixo dos Céus" (Eclesiastes, cap 3, vers 1). E assim me pergunto: 30 meses seriam o tempo suficiente para apresentar aos vorazes donos do mundo um projeto fechado e determinado a "...abolir la exclusión social y hacer de Brasil una nación integrada"? O que tem sido feito não seria parte de um projeto maior que se anuncia? Mas contraditórias mesmo são declarações de elementos como Roberto Jefferson "acusando" Lula de ter dado continuidade às maracutais próprias de gente como ele. Contraditório mesmo é a oposição peessedebista e pefelista "acusando" Lula de copiar seus modelos. Pelo visto, vão acabar cobrando royalties de direitos autorais, em quase todas as áreas de atuação do governo. Exceto no que diz respeito a abafar CPIs. |
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