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La insignia
23 de maio de 2004


A nossa música e Pandora


Luís Carlos Lopes
La Insignia. Brasil, maio de 2004.


Uma das características do mundo presente é a intensa fragmentação ideológica e política. Esta pode ser interpretada em duas direções ou em uma dupla verdade, que seria tributária do avanço mundial do capitalismo e do fracasso do socialismo real. É, por vezes, difícil, por isso, conseguir unir as pessoas em causas e objetivos comuns. Não existem mais respostas prontas e acabadas. O reino das certezas foi vaporizado e foi aberta uma nova caixa de Pandora, onde o bem e o mal são mercadorias midiatizáveis e mediadas pela nova versão da política, ainda mais cínica e desumana do que em qualquer outro tempo.

Compreender esta nova versão da famosa caixa, não é tarefa fácil porque ela guarda segredos antigos, misturados a novas verdades e mentiras que ouvimos e repetimos todos os dias. Por razões óbvias, o poder de nosso tempo não deseja que ela seja vasculhada. Existem inúmeros exemplos, onde o bem e o mal se confundem e ficamos a ver navios, querendo entender o que não é construído para a compreensão.

O último filme de Jean-Luc Godard (Notre musique) consiste em uma tentativa desesperada de se investigar a nova caixa em três velhos atos: o inferno, o purgatório e o paraíso. No primeiro, assistimos a imagens do terror bélico de todos os tempos. Não importa se ficcionais ou documentais, o terror de nosso tempo é o que se vive de modo direto e aquele que vemos, por exemplo, nos recentes e terríveis registros midiatizados nos últimos dias. No purgatório, expiamos nossas culpas, tentamos com a poesia e o humanismo nos livrar de nossos pecados e fazer as culturas e a religiões dialogarem. Saravejo foi o local escolhido, e as línguas misturadas e traduzidas desmentem o enigma da Babel e do pecado. No paraíso, por fim, somos aceitos depois de passar pelos USA's marines, seus guardiões. Lá, tudo recomeça, só que desta vez é o homem que oferece a maçã.

O homem e a mulher são as medidas de todas as coisas. Eles estão em toda parte, em todas as culturas e em todas as épocas. O mundo foi e continua sendo construído pela palavra. É ela que permite destruir ao outro ou construir a paz. Se nos calamos, consentimos com o que nos rodeia. Se partimos de uma pretensa superioridade de uma cultura sobre a outra, de uma etnia ou religião, cavaremos o fosso comum de nossa destruição.

Construir nossas músicas significa aumentar nosso grau de tolerância com o diferente. Buscar as pontes humanas entre modos de compreender o mundo, sempre lembrando que somos uma só família que povoa um só planeta. Temos as mesmas origens genéticas, viemos da mãe África. Nossas crenças se entrecruzam entre o Oriente e o Ocidente. Nossas raízes, por mais diferentes que pareçam ser, aproximam-se cada vez mais com a presença dos objetos sociais da modernidade: as mídias.

Se não resistirmos, tendo como bandeira a defesa da espécie, o USA's marines não terá o paraíso para defender, tal como diz a letra de seu hino. Defenderão, como infelizmente já ocorre, os portais do inferno. A Terra se transformará em uma imensa bola de fogo, a discórdia será a regra e jamais conseguiremos a paz duradoura (a não ser a dos mortos). Em nome da Paz, em nome do Homem, talvez isto, possa nos unir para além de nossa fragmentação.



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