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15 de setembro de 2003 |
Achados e perdidos na cena política
Luciano Siqueira
O jornal O Globo (edição de 7 de setembro último), em matéria intitulada "Tem gente que perde de tudo, até jacaré empalhado", revela curioso rol de objetos deixados por descuido em shoppings, rodoviárias e aeroportos do Rio de Janeiro: além do telefone celular, do guarda-chuva, da carteira contendo dinheiro e documentos pessoais e a chave de casa, um jacaré empalhado, um poodle (vivo), dentaduras, um berrante, muletas, bengalas, um carrinho de bebê, aparelhos de TV e de som, um saxofone e até um vaso sanitário. Segundo a repórter Laura Antunes, a lista se presta a "traçar o perfil" dos freqüentadores de distintos lugares.
Pode ser. Departamentos de achados e perdidos utilizados como fonte de pesquisa sobre condições sócio-econômicas e hábitos de vida de nossa população. Nos shopping-centers sofisticados, aparelhos celulares de última geração; nas rodoviárias, marmitas e sacolas de modesto valor. Por analogia, no noticiário cotidiano também é possível traçar um perfil aproximado dos brasileiros de diferentes camadas sociais - e de distintas inclinações políticas - a julgar pelo que têm declarado em relação aos resultados obtidos pelo governo Lula nos seus primeiros oito meses. Tal como nos departamentos de achados e perdidos, na cena política nacional há lugar para tudo. A grande maioria do povo, que não tem acesso aos meios de comunicação para exprimir o seu sentimento, "fala" através dos institutos de pesquisa. Percentuais altíssimos refletem a manutenção da esperança e da confiança do povo trabalhador no governo Lula. Já os que, por diferentes razões, podem se pronunciar através dos jornais, revistas, TVs, emissoras de rádio e páginas na internet - num certo sentido uma "elite" privilegiada -, a coisa é diferente. Aí o bicho pega. Grupos tidos como "radicais" (minoritários) e porta-vozes de corporações (empresariado e segmentos estatais do movimento sindical sobretudo) antecipam a cobrança de mudanças de envergadura que sabem - ou deveriam saber - que não se efetuam da noite para o dia, no Brasil e no mundo de hoje. Outros, com os pés no chão, mantém-se "tão radicais quanto a realidade permite" e batalham pela ampliação do apoio ao governo Lula. Porque sabem que a mudança de rumo na economia, a reforma agrária, a retomada do crescimento econômico, a expansão rápida e consistente da oferta de empregos e outras expectativas mais relevantes implicam numa complexa combinação de fatores externos e internos, políticos e econômicos, e até culturais, que demandam muita luta. Dentro do governo e na sociedade. Dependem da correlação de forças em mutação. |
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